
O Blog da BVPS publica hoje o décimo post do simpósio internacional Mundo Social e Pandemia, uma parceria com a revista Sociologia & Antropologia e a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS). A organização é de Andre Bittencourt (UFRJ e editor do Blog da BVPS) e Maurício Hoelz (UFRRJ e editor de S&A).
No simpósio, sociólogas e sociólogos do Brasil e do exterior responderam a um questionário com 4 perguntas, elaborado com a expectativa de indagar as diferentes dimensões sociais da pandemia e os desafios que ela representa para a sociologia. Mundo Social e Pandemia sai às terças e quintas no Blog da BVPS, sempre com as respostas de 5 colegas. Para ver os outros posts da série, basta clicar aqui. As versões originais das contribuições enviadas em inglês e francês são disponibilizadas nesta página, que será sempre atualizada. Para acompanhar as atualizações do Blog, siga nossa página no Facebook.
Hoje teremos como convidados/as:
Danilo Martuccelli, professor da Université de Paris, França, e da Universidad Diego Portales, Chile. Autor, entre outros, de La condition sociale moderne: L’avenir d’une inquietude e Les sociétés et l’impossible: Les limites imaginaires de la réalité.
Richard Miskolci, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Autor, entre outros, de Desejos digitais: uma análise sociológica da busca por parceiros online e O desejo da nação: masculinidade e branquitude no Brasil de fins do XIX.
Marco Antonio Perruso, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Autor, entre outros, de Ciência e política – memórias de intelectuais (Org.) e Em busca do “novo” – intelectuais brasileiros e movimentos populares nos anos 1970/80.
Nadje Al-Ali, professora do Instituto de Relações Públicas e Internacionais e do Departamento de Antropologia da Brown University, Estados Unidos. Autora, entre outros, de We are Iraqis: Aesthetics & Politics in a Time of War (Org.) e Iraqi Women: Untold Stories from 1948 to the Present.
Lourdes Bandeira, professora titular do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB). Autora, entre outros, de Políticas públicas e Violência contra as mulheres: metodologia de capacitação de agentes públicos/as (em colaboração) e Mulheres em Ação: Práticas Discursivas, Práticas Políticas.
Boa leitura!
1. Sociólogos/as e cientistas sociais, em geral, estão se mostrando mobilizados/as para produzir e compartilhar interpretações sobre os efeitos sociais e políticos da pandemia. A teoria sociológica está equipada para enfrentar o desafio de compreender/explicar o fenômeno?
Danilo Martuccelli: Todo depende de la caracterización que se haga de la pandemia. En sí misma, nada de muy sorprendente. Epidemias de origen viral se han dado varias veces en la historia, en algunos casos dejando profundas huellas en la memoria colectiva (como la peste en el siglo XIV o la gripe española a comienzos del siglo XX). Pero estos antecedentes no ayudan a comprender esta pandemia que es el fenómeno colectivo más enigmático que nos ha tocado vivir desde hace mucho tiempo. En esto reside el gran desafío para la teoría social. Comprender el enigma de la reacción que el virus ha suscitado. Muchos de los artículos que se han publicado en estos meses esquivan esta problemática y se centran en otros factores (las articulaciones entre globalización y epidemia; papel de los expertos; crisis o no del capitalismo, etc.). Todo esto es muy importante. Pero creo que el gran desafío del evento para la teoría social es de otro calibre y reside en lo enigmático mismo del fenómeno. Ni a nivel de sus imprevisibles consecuencias, ni acerca de lo bien fundado de la decisión de los confinamientos y parar con ello la actividad social y económica del mundo, sino de “por qué” se llegó a ello. Para comprenderlo será necesario ir más allá de lo evidente (el argumento de la única buena estrategia…) para escrutar posibles razones irracionales, inconscientes, simple error. Irracionales: una extraña tentación de poder y de destrucción colectiva de todo aquello que constituía el corazón del orden social (capital, trabajo, acumulación…). Error: una decisión precipitada y alarmada, inducida por el pánico, que se reveló incontrolable en sus efectos y difícilmente reversible. Para analizar lo que sucedió habrá que revalorizar la contingencia y recordar a todo momento que siempre es posible actuar de otra manera.
Richard Miskolci: A Sociologia já desenvolveu pesquisas empíricas, conceitos e teorias durante epidemias anteriores, dentre as quais destaco a do HIV-AIDS. A pandemia de SARS-COVID2 impõe desafios novos devidos às suas especificidades e consequências sociais, econômicas e políticas.O primeiro desafio envolve reconhecer algo que aprendemos durante o auge mortal da AIDS nas décadas de 1980 e 1990: toda pandemia se desenvolve diferentemente de acordo com as características de cada país e a Covid-19 terá um desenvolvimento e impacto diferente em cada país.O segundo desafio, mais amplo e geral, é que o cenário pós-pandemia poderá unir características similares a de um pós-guerra mesclados a uma nova ordem social em que a saúde pública ganha maior relevância. Ainda não sabemos se isso se associará a um reconhecimento da necessidade de criar ou aprofundar políticas sociais. Também é de se esperar uma reconfiguração das relações internacionais, tanto na reavaliação dos intercâmbios e mobilidades quanto nos meios de se proteger de situações similares no futuro. Isso pode se dar por meios cooperativos que criem ou aprofundem acordos e instituições internacionais ou por formas renovadas de nacionalismo focadas em soluções locais.
A sociologia poderá colaborar em qualquer desses cenários ou contextos: no nível nacional mantendo seu papel histórico na pesquisa, criação e análise de dados empíricos para desenvolver, aprimorar e avaliar políticas públicas e, internacionalmente, na análise comparativa de diferentes formas de abordagem em cada país, assim como na análise dos impactos das medidas que vierem a ser tomadas em nível global, ou mesmo em reação a essa possibilidade.
Marco Antonio Perruso: Este engajamento público de cientistas sociais e intelectuais é de se ressaltar. Universidades e ONGs tem se mostrado ativas no diálogo com a sociedade, na atual conjuntura inaugurada pela pandemia. É certo que devemos ampliar em muito o alcance desse diálogo. Até mesmo obras a respeito já foram lançadas, no calor dos acontecimentos, à maneira do ocorrido nos últimos anos no plano da política brasileira.
Entendo que a sociologia está equipada para analisar a situação que vivenciamos, visto possuir em seu arsenal teórico – seja o clássico, seja o contemporâneo – balizas consistentes para tanto. Com a tradição marxista continuar-se-á a explorar analiticamente os limites e as contradições do capitalismo mundial, as implicações do industrialismo e da urbanização na produção de pandemias, bem como a disseminação de seus efeitos segundo a desigualdade social. Na trilha da matriz weberiana, pode-se acionar o desencantamento do mundo para compreender a indiferença pela ciência, vigente no universo simbólico-cultural de determinados estratos sociais. Consoante à interpretação habermasiana, desnudam-se as reações do mundo da vida, à direita e à esquerda, à crise de legitimidade popular hoje sofrida igualmente por neoliberalismos e desenvolvimentismos progressistas. Temos a leitura frankfurtiana da técnica como ideologia, útil para questionarmo-nos sobre o ideário e o repertório de ação de conservadorismos e populismos tão visíveis. As teorias democráticas estão igualmente desafiadas a ajudar a repensar o mundo social. Creio que elas não devam se restringir a uma mirada intelectual que privilegia exclusivamente a manutenção da democracia política burguesa, mas ir além, investigando a reoxigenação da participação cidadã experimentada em certos lugares. Por fim, a produção em torno da desigualdade de acesso à saúde e ao saneamento, notadamente em sociedades localizadas na periferia do capitalismo, é capaz de explicar a contínua promoção de pandemias e endemias nas últimas décadas (dengue, Chikungunya, Zika, gripe suína).
Nadje Al-Ali: [Optou por não responder]
Lourdes Bandeira: A Covid-19 espalhou-se muito rapidamente, em todos os cinco continentes, com uma magnitude furiosa e inesperada, atingindo milhares de pessoas, independentemente de suas condições socioeconômicas, geográficas, raciais, geracionais, entre outras. Fato que se propagou em tempo recorde, de aproximadamente dois a três meses atingindo o mundo civilizado. Esse ‘fenômeno’ sem dúvida vem mobilizando pesquisadores/as de todos os domínios científicos para além de ser apenas um problema de saúde pública. Instiga, sem dúvida, um amplo universo de cientistas, dentre os quais os cientistas sociais, que não estão se furtando a refletir e analisar esse ‘fato social total’, como o designou o sociólogo espanhol Ignacio Ramonet em artigo recente, “La pandemia y el sistema-mundo”. Acentua ainda que a Covid-19 “convulsiona todas as relações sociais e choca todos os atores, instituições e valores”, pois a considera uma “experiência inaugural” da humanidade, deixando nela seu rastro traumático.
Os efeitos devastadores ou as consequências são muitas, pois o isolamento social compulsório que foi ‘imposto’ a toda a população evidencia, de imediato, as profundas e complexas desigualdades sociais e políticas no interior de cada país, manifestas pela situação de fome quase generalizada das populações mais vulneráveis, pela ausência de infraestrutura sanitária, assim como pela violência contra as mulheres. Há muitas diferenças entre os países do norte e do sul, no sentido de que os primeiros possuem mais recursos e equipamentos a oferecer às milhares de pessoas que foram contaminadas pela Covid-19; enquanto, aqui abaixo do equador, impera a pobreza, o autoritarismo, o medo e a desproteção de políticas públicas.Ao mesmo tempo, a situação de Covid-19 desmascara o despreparo, a inaptidão, o descaso e o escasso compromisso dos governos e do Estado – em especial no caso brasileiro, pelo seu ‘fanatismo’ em querer assegurar a manutenção do emprego e pela ‘fobia’ neoliberal em atender a um grupo de empresários do mercado, sem responsabilizar-se por tomar as medidas e providências que são necessárias, sejam as propostas pelas autoridades internacionais da OMS, sejam as baseadas nos indicativos que o conhecimento científico – pesquisadores epidemiologistas, infectologistas e outros, além do Ministério da Saúde –assinalam.
Por sua vez, as ciências sociais vêm ‘alertando’ e ‘advertindo’ sobre as tragédias ocorridas com a destruição inescrupulosa do meio ambiente e as mudanças climáticas, que, de alguma maneira, já anunciavam, indiscutivelmente, consequências danosas, sobretudo com a potencial propagação de pragas, insetos, dentre outros similares. Entretanto, as ciências sociais, como de resto nenhum outro campo científico, estavam ‘preparadas’ para ‘antever’ o tamanho da tragédia da Covid-19; isso vai desde o sistema público de saúde, como é o caso do SUS, vivendo sempre com parcos recursos, quando não desacreditado, ao contrário das enormes organizações multinacionais de fármacos, cujos laboratórios pagam pesquisadores/as de ponta, mas que na atual conjuntura têm se mostrado igualmente incapazes de produzir medicamentos e vacinas para conter a expansão mundial da pandemia. Ou seja, o avanço da parafernália das tecnologias tem surtido ainda poucos efeitos diante das severas consequências vividas até o momento, do que se deduz o ‘desempenho’ vital que têm as ciências sociais em repensar e ressignificar os sistemas de valores que conduzem as dinâmicas das relações em sociedades.
2. Como a sua área de pesquisa especializada pode contribuir para a reflexão sobre diferentes dimensões desse fenômeno?
Danilo Martuccelli: La sociología de la modernidad y la reflexión macro-sociológica pueden ser herramientas idóneas para intentar comprender el enigma de este evento. ¿Qué sucedió? ¿Detrás de las decisiones gubernamentales, asistimos a una revancha del poder de los Estados-nación contra el capitalismo digital globalizado o al advenimiento definitivo de una sociedad de protocolos globalizados (las mismas soluciones expertas aplicándose en todos lados sin consideración de los contextos)? A nivel de la dominación, ¿no explicita la pandemia el declive de las jerarquías y creencias en beneficio de los controles fácticos? Pero este tipo de indagaciones no deben llevar a obliterar cuestiones fundamentales: escrutar no tanto las decisiones sanitarias en sí mismas, en medio de una irresponsable imprevisión colectiva, sino los yacimientos imaginarios de las decisiones. ¿Existe hybris más grande de poder que la de paralizar simultáneamente “toda” la actividad mundial? ¿Por qué se decidió en un mundo tan ordinariamente indiferente a las vidas humanas (inmigración, hambre, asesinatos, exclusión) realizar un esfuerzo de tal talla y con tales consecuencias en nombre de “la” vida? ¿Cómo “la” vida y el confinamiento pudieron esgrimirse como imperativos frente a las exigencias del capitalismo, pero también las escuelas, las deudas, la sociabilidad, la violencia conyugal? ¿Qué revela el temor colectivo a la muerte que este evento puso en escena? ¿Qué jerarquía de miedos estructura nuestras sociedades –la muerte, la violencia, el hambre, la catástrofe, etc.? ¿Qué papel y peso – indirecto – tuvo en las decisiones tomadas el malestar que tantos individuos resienten cotidianamente a propósito de sus condiciones de vida? Para afrontar el enigma, habrá que abrirse a razonamientos contraintuitivos, deshaciéndolos de todo funcionalismo conspirativo: ¿no terminará siendo la pandemia, involuntariamente, una fuente de legitimación de “esa” vida que hasta ayer asfixiaba económica, social y ecológicamente?
Richard Miskolci: Minha atual área de expertise envolve as tecnologias da comunicação e informação e a saúde; portanto, pode contribuir de múltiplas formas para compreender o fenômeno. Assim como a AIDS intensificou o uso das tecnologias entre o segmento mais afetado, os homossexuais, é provável que a pandemia de Covid-19 terá efeito similar, só que mais espraiado socialmente.
As já estabelecidas teorias e reflexões sobre os impactos econômicos do advento da sociedade conectada tendem a ser corroboradas, mas a elas se somarão o necessário trabalho de pesquisa e desenvolvimento de novas teorias e conceitos afeitos a suas dimensões culturais e psíquicas. A socialização por meio de plataformas dos serviços comerciais de rede social como Facebook, Twitter, Instagram e aplicativos de trocas de mensagens já vinha transformando a vida social e tendo impactos subjetivos diversos, mas sua possível universalização e intensificação terá novas consequências. Dentre elas, destaco as políticas, pois já se sabe que as redes digitais geram bolhas de opinião, segmentação ideológica e – ao menos até hoje – tenderam a cercear diálogos e semear conflitos.
Sem aprimoramento, regulação legal e limites econômicos ao oligopólio que atualmente controla a internet tendemos a viver mais polarização e instabilidade política. A ordem geopolítica conectada tem os Estados Unidos como seu centro e maior beneficiário, a Rússia um dos agentes internacionais que melhor a manipula e a China mantendo sua estabilidade pelo controle da rede e o uso de plataformas nacionais alternativas às do oligopólio norte-americano. O restante do mundo sofre as consequências de um ecossistema informacional cujos modelos de negócios e interesses políticos lhe são estranhos, assim como suas características culturais disseminam modos de subjetivação e ação social assentados em individualismo e empreendedorismo.Na área de pesquisa que intersecta saúde e TICs, será necessário ampliar as pesquisas sobre os impactos subjetivos da disseminação das formas conectadas de socialização e como tais impactos modificam os laços e a agência sociais.
Marco Antonio Perruso: A área de estudos sobre o pensamento social brasileiro e uma sociologia dos intelectuais têm muito a contribuir para o conhecimento aprofundado deste momento histórico. Primeiramente, demonstrando como foram concebidas epidemias anteriores, como a sociedade e a cultura nacionais interagem com os desafios da saúde pública, do saneamento e do urbanismo. Por conta de acontecimentos marcantes (gripe espanhola, Revolta da Vacina), a produção acadêmica a respeito é notória. Em segundo lugar, dimensionando o desempenho das ideias, da ciência e de seus agentes sociais (intelectuais, cientistas, tecnocratas) no Brasil. Será possível então responder à inquietante indagação: na era das fake news e do modismo terraplanista, que legitimidade social nós, profissionais do capital intelectual, produtores da cultura e da ciência, possuímos? Com que segmentos – elites, setores médios, classes populares – ou entes sociais (o mercado, o Estado, os movimentos sociais, a própria universidade) nos relacionamos? Creio ser importante, também, retomar o pensamento brasileiro que lê o país em chave antidualista, de modo que estejamos instrumentalizados a perceber como o progresso nacional – da década passada, por exemplo – sempre, de alguma maneira, acaba permitindo a reposição e a reinvenção do atraso (no tempo presente, o bolsonarismo). A superação da dualidade moderno/tradicional nas ciências sociais brasileiras pode ser uma resposta positiva gestada desde a quarentena. Por fim, nossa área oferece vastas análises sobre o conceitual em torno do populismo – novamente em voga, ainda mais em tempos de confinamento. Para além da justa crítica ao elitismo presente na acepção liberal do termo, o retorno ao exame dos clássicos do pensamento brasileiro e da sociologia marxista (de meio século atrás) sobre o tema talvez propicie leituras que fujam à reabilitação nacionalista do populismo enquanto fenômeno político. Esta, tão forte num certo senso comum intelectual atual, reflete, contudo, a impotência populista em nos tirar da crise em que estamos.
Nadje Al-Ali: As ciências sociais, mais do que nunca, são desafiadas a ser interdisciplinares usando uma gama de métodos, não apenas mistos em termos de seu caráter quantitativo e qualitativo mas também on-line e off-line, e a serem sensíveis às desigualdades interseccionais históricas e contemporâneas experimentadas globalmente pelas pessoas. Nós como cientistas sociais precisamos perseguir de maneira mais confiante agendas emancipatórias transformativas em vez de escondermos nossa política atrás de alegações de objetividade positivistas.Informadas e informados por abordagens feministas transnacionais e decoloniais, estudiosos e estudiosas feministas têm procurado cada vez mais epistemologias e metodologias alternativas, além de práticas políticas, ao mesmo tempo em que se alinham a “processos e forças de regeneração, revitalização, rememoração e visualização”, citando Leanne Simpson.
Lourdes Bandeira: Como professora e pesquisadora há mais de três décadas dedicada ao estudo do tema, a violência contra as mulheres tem se agravado – aqui e lá fora –, derivada/acentuada pela situação provocada pelo isolamento social, considerando-se que está havendo um aumento em torno de 30% desta, –como indica o enorme volume de denúnciasinformadas diariamente pelas mídias sociais nacionais e internacionais. As situações de violência contra as mulheres compreendem desde a violência física, sexual, psicológica, patrimonial e moral até a prática de crimes de feminicídio que se multiplicam quase em escala geométrica, a nível local e global. Vale lembrar que a situação de isolamento social escancara o convívio com maridos, companheiros e padrastos abusadores sexuais e violentos, e ao mesmo tempo acentua as desigualdades de gênero ao expor as diferenças na divisão sexual do trabalho, uma vez que cabe às mulheres a responsabilidade de exercer a economia dos cuidados na esfera doméstica. Por fim, o confinamento desencadeia situações de estresse, ansiedade, fragilidade e outros riscos de conviver no mesmo espaço da casa,da família, com homens que podem atentar contra sua integridade física e emocional, sobretudo quando há a presença de crianças.
Trata-se de uma situação de urgência absoluta, cuja gravidade demanda um olhar sensível que seja sociológico e feminista no sentido de entender as multiplicidades de causas que são ativadas quando se trata de violência de gênero. Pois os números ainda não ofereçam a possibilidade de compreender a extensão e a complexidade desse fenômeno, onde, por exemplo, não é descrita a condição étnica/racial, de classe e de territorialidade das mulheres vítimas de violência doméstica. São as mais vulneráveis, muitas desempregadas e destituídas de condições adequadas de sobrevivência, que estão submetidas a tal situação, tanto no Brasil como em outros países. As informações divulgadas concentram-se na faixa etária das pessoas mortas pela Covid-19, destacando que as mortes se distribuem em 68% de homens e 32% de mulheres, cuja faixa etária vai de 30 até mais de 80 anos, tendo maior incidência a partir dos 70 anos, em ambos os sexos.
No contexto da Covid-19, cabe às ciências sociais acompanhar seus ‘avanços’ perversos e não se eximir de sua responsabilidade de denunciar a violência contra as mulheres, pois já é sabido que a Covid-19 tem gênero e classe. Vale lembrar que esse fenômeno não é recente, tem história, e o ativismo feminista foi pioneiro em ensejar sua visibilidade, denunciá-lo estimulando a criação de uma área/campo de estudos e pesquisas acadêmicas em desenvolvimento, e tem contribuído de várias formas significativas:i) Introduziu nas universidades disciplinas referentes à questão, com vistas à formação de gestoras públicas com atuação tanto em políticas públicas, como na formação de operadores/as do direito para o trabalho no judiciário. Tal qualificação permanente tem trazido frutos, com iniciativas inovadoras – produção de cartilhas informativas, que neste momento da Covid-19, possibilitam orientar as mulheres a realizarem a denúncia. Núcleos de Gênero centrados na violência foram criados em diversos Ministérios Públicos – como no Rio de Janeiro e no Distrito Federal, dentre outros, e vem atuando de maneira a informar, acolher e encaminhar as mulheres vítimas de violência doméstica, em contexto de isolamento social, uma vez que muitas delas convivem com seus agressores; ii) Identificando as insuficientes iniciativas de políticas públicas de combate à violência doméstica, em consequência da Covid-19, uma vez que, atualmente, observa-se um recuo em relação aos ganhos institucionais de combate e enfrentamento às violências existentes em tempos normais; iii) Formando redes de enfrentamento à violência – em parceria com grupos/organizações de mulheres e de mulheres negras da sociedade civil, que atuam em comunidades, nas periferias e nos rincões interioranos do Brasil; iv) Produzindo pesquisas quantitativas e qualitativas –que trazem dados sobre a complexidade do fenômeno que se traduzem em indicadores de base ao planejamento de políticas públicas. É importante manter o ‘método da observação in sito’, com vistas a captar informações, observar as mudanças e recorrências que as expressividades da violência doméstica podem manifestar provocadas pela pandemia do Covid-19. Por fim, mais recentemente a sociologia tem se dedicado a pesquisar as peculiaridades que caracterizam os crimes tipificados de feminicídio – os quais têm aumentado no contexto do coronavírus –, por tratar-se de uma grave violação de direitos humanos das mulheres, que tem impactos profundos na economia e na saúde das mulheres e das pessoas em geral, das sociedades e, porque não, das nações!
3. A pandemia estaria provocando mudanças sociais, políticas e/ou culturais profundas? Ou acelerando tendências já em curso? Se sim, é possível vislumbrar os contornos das sociedades pós-Pandemia?
Danilo Martuccelli: Todas las sociedades reprimen un hecho fundamental: en contra de lo que las evidencias cotidianas parecen imponer, todo es posible. Como lo muestra la historia, muchas y muy diversas composiciones de la sociedad son posibles. La verdad de este abismo ha sido abierta con una violencia inusitada por la pandemia. Más allá por eso de las probabilidades que tal o cual cosa suceda (retorno a la muy vieja normalidad, reorientación del capitalismo digital, mayor intervención estatal, New Green Deal, economía regenerativa, explosión del autoritarismo, etc.), la pandemia debería permitir replantear desde un punto de vista político la jerarquía de los valores colectivos. Si la conciliación práctica de diferentes principios en tensión es la regla en las sociedades modernas, la pandemia invita a mejor esclarecer nuestras jerarquías colectivas alrededor de la libertad, la igualdad, la solidaridad, la geopolítica, el bienestar o la vida. No deberían ser discusiones abstractas de filosofía política, sino debates muy concretos, aunque de índole existencial, en los que será necesario hacer transparentes las consecuencias de las decisiones. Pero la pandemia también invita a repensar esta vez en la sociología la concepción misma de lo social desde ángulos distintos que la efervescencia, la muchedumbre o la densidad, e incluso las interacciones, analizando que tendencias en la digitalización o las teleactividades se confirmarán y cuáles serán revertidas, qué nuevas jerarquías de distancias y de presencias se forjarán, qué mutaciones tendrá la visibilidad. Sin embargo, lo más probable es que ante el abismo al que confrontan estos esfuerzos, se intentará con mayor o menor mala fe y falsa conciencia regresar a las concepciones y soluciones del pasado. La inercia roerá todos los cambios. Comenzando por el más obvio e importante de todos: el replanteo de las relaciones entre la sociedad y la naturaleza.
Richard Miskolci: A origem da pandemia é inseparável da globalização, do aprofundamento de desigualdades econômicas, além da falta de uma política mundial para o meio ambiente que regule a produção e circulação de alimentos, especialmente os de origem animal. Além disso, a disseminação da epidemia e transformação em pandemia foi rápida devido à alta mobilidade de certos segmentos sociais em nosso atual estágio das relações econômicas articuladas mundialmente e fenômenos associados como o turismo.
A desigualdade social, além da questão sanitária e de meio ambiente, é um dos elementos presentes no mercado de Wuhan que resultou na passagem do vírus do animal para o ser humano. Pouca atenção tem sido dada a isso nas análises escritas no calor do momento, o que pode levar a respostas apenas sanitárias que deixem de reconhecer a miséria e a desnutrição entre trabalhadores que lidam diretamente com os animais. Reforçar medidas de controle sanitário ajuda, mas não elimina a desigualdade econômica e nutricional que expõe alguns a infecções que podem vir a se disseminar para a coletividade. Apenas um esforço articulado que envolva políticas sociais que articulem recursos econômicos e de saúde em termos globais pode nos proteger. Na ausência dessas iniciativas, a solução paliativa pode ser a de barrar os contatos, diminuir a mobilidade das pessoas e ampliar os controles de fronteira. Economicamente, isso pode levar a uma crise prolongada e ao aprofundamento das desigualdades entre as nações. Em termos políticos, é uma aposta em uma espécie de processo contrário ao da globalização que vivenciamos desde a década de 1990, com resultados incertos e desiguais.A pandemia pode se tornar um ponto de inflexão aprofundando e acelerando mudanças sociais, políticas e culturais que já vinham ocorrendo. Os contornos das sociedades pós-pandemia são incertos e dependerão das experiências diversas de seus impactos e extensão, assim como das respostas que elas provocarão.
Marco Antonio Perruso: É sempre difícil para os cientistas sociais apontar tendências em meio à complexidade do real, mas não nos furtemos a indicar diferentes vetores presentes dialeticamente no mundo social. Olhando para as estruturas sociais, alguns fenômenos devem ter sua disseminação acelerada pela pandemia: trabalho remoto e alterações na sazonalidade da mobilidade urbana – serão mais ou menos precarizantes das condições de vida a depender da agência dos trabalhadores, a qual só pode ser fortalecida por meio de uma renovação classista do movimento sindical. A articulação coletiva dos “de baixo” talvez fortaleça outras pautas recolocadas pela crise econômica já instalada: renda básica universal, imposto sobre grandes fortunas, abolicionismo penal. Quanto a outras sociabilidades possíveis, e no mesmo sentido de aceleração de tendências, vários movimentos sociais podem reforçar eixos programáticos emergentes: a crítica – ecológica ou mesmo identitária – ao produtivismo e ao economicismo como nexo existencial da contemporaneidade, por exemplo.
Em direção contrária, o drama em curso da saúde pública enfraquece o ultraliberalismo e seu agitprop em torno dos mercados, reforçando o paradigma do Estado de Bem-Estar Social. Mas novamente: o resultado será democratizador – quem sabe inaugurador de novos horizontes emancipatórios – caso se desenvolva um processo de empoderamento das classes subalternizadas mundo afora, cujos direitos continuam sob ataque.
Nadje Al-Ali: É muito cedo para prever se a pandemia vai acelerar ou alterar radicalmente as mudanças e processos que temos visto se desenvolverem durante as últimas décadas devido à neoliberalização das economias, mudanças climáticas, à ascensão do autoritarismo político, ao crescimento da mídia social e das assim chamadas operações de influência com uso de fake news. No entanto, sabemos que a crise atual se desdobrará de forma diferente a depender de contextos globais, além de amplificar desigualdades de gênero, raciais, econômicas e políticas existentes. Ela vai impactar os mais marginalizados, incluindo mulheres, indivíduos LGBTIQ+, pessoas com deficiências, idosos, pobres e os refugiados. Meu próprio trabalho sobre mobilização de gênero no Oriente Médio e suas diásporas procurou mostrar como guerras, conflitos e mudanças drásticas em políticas econômicas impactam mulheres e relações de gênero de forma desproporcional. Mas também buscou analisar como mulheres e indivíduos LGBTIQ+ se mobilizam e resistem contra as crescentes desigualdades interseccionais e as políticas públicas autoritárias que emergiram na região.
Lourdes Bandeira: É difícil pensar em mudanças neste momento, embora haja quem vislumbre que o mundo não será mais o mesmo. A meu ver, isso não significa que as práticas de solidariedade, de compaixão e que políticas com legítimos valores sociais venham a se instalar entre os povos. Estas seriam suficientes para superar a crise econômica mundial?Penso que não, pois no cenário da crise da Covid-19, é necessário bem mais. Hoje, há segmentos da indústria e do mercado que prosperam com a pandemia: todas as tecnologias que fornecem equipamentos hospitalares, a fabricação de máscaras, luvas e demais utensílios, continuam alimentando o capitalismo. Talvez, por um lado, tivéssemos que retomar a sabedoria de Marcel Mauss quando no Ensaio sobre a dádiva, publicado em 1925, já nos ensinava que o valor das ‘coisas’ não pode ser superior ao valor das ‘relações sociais’ e que o simbólico é fundamental para a vida social. Mauss chegou a esse entendimento a partir da constatação de que as características de trocas nas sociedades arcaicas não são apenas coisas do passado, tendo importância fundamental hoje para se compreender a sociedade moderna. Ou seja, a prática da dádiva, do dom, poderia se constituir no fundamento de toda sociabilidade e das comunicações humanas nas sociedades atuais.
Por outro lado, e sendo menos pessimista, vislumbram-se esperanças no fazer da política com as novas lideranças femininas que vem surgindo no cenário internacional ao enfrentar a crise da Covid-19. Trata-se de novas formas de um olhar feminino, que se reflete no fazer política com intuito de se ocupar, de cuidar da população, uma vez que a economia dos cuidados não deixará, de repente, de ser atribuída à responsabilidade das mulheres. Outros paradigmas vêm sendo usados por líderes femininas. Desde a Islândia, sob a liderança da primeira-ministra Katrín Jakobsdóttir, passando por Jacinda Ardern, premiê da Nova Zelândia e Sanna Marin, chefe de estado na Finlândia, Tsai Ing-wen, presidente em Taiwan, e Angela Merkel, a chanceler da Alemanha; enfim, todas essas mulheres estão evidenciando ao mundo como lidar com uma situação complexa e inusitada de crise mundial que atinge cada país de maneira própria. No enfrentamento dessa pandemia revela-se que as mulheres partem de outros valores, de outros olhares mais plurais e menos desiguais evidenciando maneiras outras de exercer o poder e a tomada de decisões.
4. Que obra(s) da sociologia e das demais ciências sociais podem nos ajudar a compreender e a conversar sobre os desafios em curso?
Danilo Martuccelli: El intelectual colectivo del siglo XXI es el periodismo y la pandemia lo ha mostrado una vez más El puñado de intelectuales altamente publicitados a nivel global que ha escrito sobre el tema no ha brillado, ninguno(a) de ello(a)s, por la inteligencia de sus análisis. En el lenguaje estructuralista en los años 1970, cada uno de ello(a)s tenía demasiados intereses ideológicos en querer convencer a los lectores de la pertinencia de sus obras y miradas anteriores para abrirse realmente al evento y sus enigmas. La inteligencia analítica estuvo en otro lado: en el encomiable trabajo colectivo de miles de periodistas a través de muy distintos soportes. Su trabajo fue tanto más importante que la puesta en cuarentena de la deliberación democrática y la muy fuerte limitación de las libertades fundamentales les dio un rol de salvaguarda de la democracia como nunca lo habían tenido. El periodismo es cada vez más la gran matriz de enunciación, de aparición y de inteligibilidad de la vida social: impone tanto el análisis distante de los sucesos (en tercera persona) como el testimonio ante los hechos (en primera persona), un formato corto y a lo más de algunas páginas o minutos, impone argumentaciones en las cuales las afirmaciones priman sobre las demostraciones, todo esto marcado por una reactividad constante. El trabajo de comprensión del mundo se reorganiza desde el artículo o el podcast. Por supuesto, esto no supone el fin del libro en las ciencias sociales (¡ojalá!), pero impone nuevos desafíos analíticos. Reconociendo el hecho que ante una crisis de esta envergadura la inteligencia del evento estuvo fuera de nuestras disciplinas, hay que tratar de extraer las consecuencias que se imponen. La primera de todas: incentivar, desde los años de formación de los científicos sociales, la imaginación teórica por encima de las escolásticas y el metodologismo.
Richard Miskolci: Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade de Ulrich Beck e Alone together de Sherry Turkle, mas também obras específicas sobre doenças e epidemias como Os Homossexuais e a AIDS: sociologia de uma epidemia de Michael Pollak, A doença como metáfora de Susan Sontag e abordagens sobre os medos coletivos como o estudo de Jean Delumeau intitulado História do medo no Ocidente, Folk devils and moral panicsde Stanley Cohen e Ghostly matters de Avery Gordon. Cabe incluir na lista abordagens literárias sobre epidemias e doenças como as feitas por Thomas Mann em clássicos como Morte em Veneza e Doutor Fausto, mas sobretudo seu retrato da decadência da burguesia europeia por meio da tuberculose em A montanha mágica.
Marco Antonio Perruso: Sobre a escala planetária da pandemia e a insegurança social diante do entrelaçamento com o “outro” ainda desconhecido, são úteis teóricos da globalização como Manuel Castells (O poder da identidade e A sociedade em rede) e Ulrich Beck com a atualíssima Sociedade de risco mundial – em busca da segurança perdida. Paralelamente, A teoria do agir comunicativo de Jürgen Habermas e Necropolítica de Achille Mbembe são inescapáveis. Quanto ao patamar em que as sociedades da periferia do capitalismo enfrentam a situação ora vigente, destaco As fronteiras do neoextrativismo na América Latina: conflitos socioambientais, guinada ecoterritorial e novas dependências, de Maristella Svampa, e Pós-extrativismo e decrescimento: saídas do labirinto capitalista, de Alberto Acosta e Ulrich Brand. No que se refere às interpretações antidualistas do Brasil – em que se tornam inteligíveis o otimismo e o pessimismo que cultivamos sobre o povo brasileiro e sobre nós mesmos: o clássico de Francisco de Oliveira, Crítica à razão dualista – O ornitorrinco, e, de Paulo Arantes, Sentimento da dialética na experiência intelectual brasileira: dialética e dualidade segundo Antonio Candido e Roberto Schwarz – dois pensadores radicais. A respeito da agência das classes populares, necessária se faz a leitura da produção recente sobre movimentos sociais de autores como Maria da Glória Gohn e Breno Bringel. Por fim, indico os livros recém-editados Sopa de Wuhan – Pensamiento Contemporáneo em Tiempos de Pandemias (com artigos de Judith Butler, Byung-Chul Han e outros) e Coronavírus e a luta de classes (com autores como Alain Badiou, Raúl Zibechi, entre outros).
Nadje Al-Ali: NadjeAl-Ali, “Feminist dilemmas: how to talk about gender-based violence with reference to the Middle East?”; KristinaHinze e Izadora Zubek, “Why the Covid-19 pandemic needs an intersectional feminist approach”; JoseItzigsohn e Karida L. Brown, The sociology of W.E.B. Du Bois: racialized modernity and the global color line.
Lourdes Bandeira: Não me ocorre nenhuma obra publicada recentemente a ser indicada. Mas sugeriria que revisitássemos alguns autores e conceitos clássicos da sociologia – como o de classe social, em ‘desuso’ para muitos, em uma releitura do velho Karl Marx; e o de fato social, de Durkheim. Mereceriam também uma releitura, com o olhar deste momento de crise da Covid-19, Edgar Morin, Ciência com consciência; Richard Sennett, A corrosão do caráter; Jürgen Habermas, Teoria daação comunicativa;Manuel Castel, As metamorfoses da questão social; Hannah Arendt, Homens em tempos sombrios; Marcel Mauss, Ensaio sobre a dádiva.
Concluo essas breves reflexões retomando o pensamento de Ignacio Ramonet, no artigo citado, que nos faz pensar na importância de possíveis mudanças a ocorrer na humanidade; paradoxalmente, a economia dos cuidados – atividade historicamente atribuída à responsabilidade das mulheres –, e os/as anônimos/as trabalhadoras/as da saúde continuaram na mesma ‘invisibilidade’; mas não há que se negar ‘potencialidades’ de mudança para os/as mais otimistas.Como argumenta o autor, o mundo pós-pandemia não deveria mais centrar-se na produção capitalista da mercadoria, mas na produção do direito, isto é, na necessidade básica de um direito humano:“A pandemia também tem seus heróis e seus mártires. E nesta luta, os guerreiros que subiram para a linha de frente, para os postos avançados para enfrentar a mortal SARS-CoV-2, foram médicos, enfermeiros, auxiliares e outros profissionais de saúde que se tornaram protagonistas involuntários, ganhando elogios e aplausos das varandas, praças e ruas das cidades ao redor do mundo. Quase todos eles funcionários públicos, para os quais a saúde da população não é uma mercadoria, mas uma necessidade básica, um direito humano”.
***Uma versão revisada do simpósio se encontra publicada em Sociologia & Antropologia, n. especial, v. 11/2021, no link: http://www.sociologiaeantropologia.com.br/v-11-n-especial/
A imagem que acompanha este post é:
••• Piet Mondrian. Composition 8, 1914. Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York, EUA. [Imagem recortada]
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