BVPS Divulga | Lançamento dos livros “O Espírito da Floresta” e “Diários Yanomami” na UFRR

Nesta sexta-feira, 24 de maio, às 18h30, serão lançados na Universidade Federal de Roraima os livros O Espírito da Floresta, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, e Diários Yanomani, escrito por cinco pesquisadores da Terra Indígena Yanomami.

O evento de lançamento, intitulado “Reahu na UFRR”, acontece a partir das 18h30, com a presença dos autores indígenas Davi Kopenawa, Morazildo Yanomami e Darysa Yanomami.

Confira abaixo mais informações sobre as obras e uma apresentação de Alcida Rita Ramos (UnB) do livro Diários Yanomami.


O Espírito da Floresta e Diários Yanomami: livros sobre impactos do garimpo e saberes indígenas

O Espírito da Floresta

Dos mesmos autores de A Queda do Céu, O Espírito da Floresta reúne reflexões e diálogos que, a partir do saber xamânico Yanomami, evocam, sob diversas perspectivas, as imagens e sons da floresta, a complexidade de sua biodiversidade e as implicações trágicas de sua destruição.

“Quando meus pensamentos estão tristes, às vezes pergunto a mim mesmo se, mais tarde, haverá xamãs. Talvez não”, diz em seu mais novo livro o presidente da Hutukara Associação Yanomami, maior liderança da Terra Yanomami. “Mas, se acontecer, nossos filhos terão o espírito tão emaranhado que já não verão os espíritos e já não poderão ouvir seus cantos. Sem xamãs, ficarão desprotegidos e a escuridão tomará conta do pensamento deles”. 

O Espírito da Floresta, dividido em 16 capítulos, reúne textos originalmente publicados entre 2002 e 2021 em inúmeras exposições realizadas em Paris pela Fundação Cartier. A tradução é de Rosa Freire D’Aguiar.

Diários Yanomami

Os autores do Diários Yanomami são os pesquisadores Mozarildo Yanomami, Darysa Yanomami, Josimar Palimitheli Yanomami, Alfredo Himotona Yanomami e Marcio Hesina. Eles apresentam a percepção deles e de seu povo sobre os impactos do garimpo na Terra Indígena Yanomami entre 2019 e 2022. Nesse período, Jair Bolsonaro (PL) ocupava o cargo de presidente do Brasil. A gestão foi marcada por políticas que estimularam a invasão garimpeira no território.

A publicação conta com relatos em formato de diários, registro de depoimentos e entrevistas feitas pelos indígenas. O livro é bilíngue e sempre apresenta a primeira versão do texto em Yanomami com a tradução para português na página seguinte.

“Eu quero que vocês, brancos que nos defendem à distância, ouçam estas minhas palavras”, inicia o capítulo “Diários”, escrito por Mozarildo Yanomami, que estará presente no lançamento com a pesquisadora Darysa Yanomami, vindos da região da Missão Catrimami (TIY). A reflexão de Mozarildo passa pela violência dos garimpeiros contra as mulheres, sobre o desconhecimento dos não indígenas às violações que os Yanomami sofrem e o desejo de que esta publicação jogue luz sobre o tema e ajude a salvar o povo dele.


Diários Yanomami. Testemunhos da Destruição da Floresta

Por Alcida Rita Ramos (UnB)

Este livro, lançado em Boa Vista no dia 24 de maio de 2024, marca o advento de pesquisas sociais levadas a cabo por pesquisadores Yanomami. É o resultado de um magnífico esforço coletivo entre escritores Yanomami e pessoas não indígenas dedicadas à defesa desse povo, que está entrando na História como exemplo insuperável da força étnica que resiste às piores provações.

Os depoimentos de homens e mulheres Yanomami levam o leitor ao âmago do sofrimento causado pelos crimes que os abatem há décadas, passando de uma geração a outra, e que não podem ser chamados senão de genocídio. Muitos leitores já se acostumaram a textos contundentes escritos por não indígenas, mas é a primeira vez que um livro inteiro desnuda de maneira visceral a realidade contada por aqueles que sofrem na pele e na alma os efeitos do desatino que assola a Terra Indígena Yanomami.

A vontade incontrolável dos autores Yanomami de se fazerem ouvir pelo mundo exterior foi acolhida pelo missionário católico Corrado Dalmonego com um entusiasmo esfuziante. A ele coube o trabalho hercúleo de traduzir todos os textos Yanomami para o português. Nos bastidores institucionais que apoiaram a empreitada estava Estêvão Senra, geógrafo com alma de etnógrafo, responsável por dar corpo ao projeto.

A mim me coube a revisão do português. E foi nessa condição que apreciei plenamente o esforço de Corrado para trazer ao leitor externo o mundo extraordinariamente rico dessas línguas que abarcam uma pletora de conceitos, emoções e visão de mundo. No centro desse universo pensante está o conceito de urihi. É Floresta, é Terra, é Lar, é o chão sem o qual não há vida. E é o lamento pela destruição da urihi que conduz o pensamento e a mão dos autores por essa verdadeira epopeia humana.


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