O golpe de 1964 por imagens e resistências, por Lilia Moritz Schwarcz

Publicamos no Especial BVPS sobre os 60 anos do Golpe de 1964, ensaio visual da antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz (USP/Princeton) que nos convida a “lembrar de não esquecer”. São diversas fotografias, obras, caricaturas e charges que retratam a resistência à ditadura, e de onde tiramos as imagens que abrem os posts do Especial “Passados-Futuros do Golpe de 1964“.


O golpe de 1964 por imagens e resistências

Por Lilia Moritz Schwarcz (USP/Princeton)

Imagens tiveram um importante papel na resistência ao golpe de 1964. Nas lentes de Juca Martins e Evandro Teixeira; nas fotos dos jornais; nas obras de Cildo Meireles, Carlos Zilio, Cláudio Tozzi ou Antônio Dias; nas caricaturas e charges de Ziraldo, Nani, Henfil ou Luiz Gê, a violência do golpe apareceu a partir de vários suportes. Como dizia o artista Nelson Leirner, com sua ironia fina e ácida: “uma linha dura não dura”.

Imagens são representações poderosas que não apenas respondem a um contexto. Na verdade, elas ajudam a formular problemas, a veicular críticas e a produzir uma comunidade que imagina, sofre e reclama por direitos.

Neste pequeno ensaio visual ficam registrados esses “pequenos/grandes atos” de resistência cívica diante deste golpe que sistematicamente, e a partir de 17 atos institucionais, surrupiou direitos, sequestrou, assassinou e fez desaparecer pessoas que lutavam por um Brasil diferente: mais democrático e cidadão e oposto a esta sangrenta ditadura militar que durou de 1964 a 1985. É sempre importante “lembrar de não esquecer”.

Evandro Teixeira (1964). Fonte: Acervo IMS.
Evandro Teixeira (1964). Fonte: Acervo IMS.
Evandro Teixeira (1968).
Juca Martins (1964).
Congresso Nacional em 1964, quando ocorreu o golpe. Fonte: Arquivo/Agência O Globo.
Fonte: Arquivo/Agência O Globo
Desfile de 7 de setembro em 1972. Fonte: Acervo Arquivo Nacional.
Enterro do estudante Edson Luís, assassinado em março de 1968 no Rio de Janeiro por agentes da repressão no restaurante Calabouço. Fonte: Acervo Arquivo Nacional.
Evandro Teixeria (1968).
Fonte: Arquivo/Agência O Globo
Orlando Brito (1971).
Evandro Teixeira
Evandro Teixeira
Fonte: Arquivo/Agência O Globo. Disponível aqui.
Evandro Teixeira
O marechal Humberto Castello Branco (no centro) colocado na presidência por meio de uma eleição indireta. Fonte: Acervo CPDOC-FGV.
Manifestação contra o golpe de 1964. Fonte: Arquivo Nacional.
Comício da Central do Brasil. Fonte: Arquivo Nacional.
Tanques chegam a Brasília. Fonte: Jornal do Senado.
Um tanque de guerra (M41 Walker Bulldog) e outros veículos do Exército Brasileiro próximos ao Congresso Nacional, durante abril de 1964. Fonte: Agência Senado/ Arquivo Público do Distrito Federal.
Tanques do 2º exército em 1964, em São Paulo, que teriam recebido dinheiro de “caixa 2” para apoiar o golpe militar. Imagem João Marques, 14 abril 1964. Fonte: Última Hora.
Posse de Humberto Alencar Castello Branco (ao centro, acenando) na Presidência da República, em Brasília/DF.
Mulher segurando cartaz que tenta explicar o que é civismo. 19 de março 1964. Fonte: Folhapress.
Em 1º de abril de 1964, uma criança, ao lado de um tanque, é observada usando capacete e segurando uma arma de brinquedo. Fonte: Agência O Globo.
À direita da imagem, está Humberto Castello Branco, um dos líderes do movimento golpista de 1964.
Fonte: FGV/CPDOC
.
Fotógrafo desconhecido. Depredação do Sindicato dos Metalúrgicos – Golpe de 1964. Fonte: Correio da Manhã/ Arquivo Nacional.
Fotógrafo desconhecido. Sede do jornal O Globo no dia do golpe de 1964. Fonte: Correio da Manhã/ Arquivo Nacional.
Fotógrafo desconhecido. Manifestação estudantil contra a Ditadura Militar em junho de 1968. Fonte: Correio da Manhã/Arquivo Nacional.
Silvaldo Leung Vieira. Imagem do jornalista Vladimir Herzog no DOI-CODI de São Paulo. Fonte: Instituto Vladimir Herzog.
Fotógrafo Desconhecido. Prédio da FFCL incendiado após episódio da Batalha da Maria Antônia. Fonte: Acervo Folha Imagem/ Folhapress.
Painel com rosto de alguns dos mortos e desaparecidos durante a ditadura militar no Brasil. (Reprodução). Disponível aqui.
Juca Martins, Manifestação contra o custo de vida em 1978. Fonte: acervo do autor.
Estudantes deixam o campus Saúde da UFMG após a polícia ter impedido, em junho de 1977, a realização da terceira edição do Encontro da UNE. Fonte: Acervo Projeto República / UFMG.
Fotógrafo desconhecido. Corpo de Edson Luís de Lima Souto em 1968. Fonte: Fundo Correio da Manhã/ Arquivo Nacional.
Gilmar. Greve dos trens da Leopoldina. 31 de março de 1964. Fonte: Correio da Manhã/ Arquivo Nacional.
Gilberto. Enterro de vítima da Ditadura Militar. 14 de dezembro de 1964. Fonte: Correio da Manhã/ Arquivo Nacional.
Ato realizado em 2014, quando a Comissão Nacional da Verdade publicou lista oficial de mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura . Fonte: Antonio Cruz/ Agência Brasil.
Dezembro de 1968. A foto de Costa e Silva no Congresso vazio ocupou a capa de Veja sobre o AI-5 recolhida das bancas. Fonte: Roberto Stuckert/Folhapress.
Evandro Teixeira
Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghel e Cacilda Becker protestam contra censura em 1968. Fonte: Arquivo Nacional.
Em 1970 Carlos Zílio foi preso pelo regime militar e executou essa série de desenhos no cárcere. Eles foram expostos ao público pela primeira vez em 1996.
Hélio Oiticica.Seja Mrginal, Seja Herói ” (1986). Fonte: Acervo Itaú Cultural.
Carlos Zilio. “Lute” (1967).
Claudio Tozzi. “A prisão” (1968).
A obra “Repressão outra vez'” (1968), de Antonio Manuel, havia sido selecionada para a Bienal de Paris de 1969 e faria parte da VI Bienal de Jovens em Paris, no Museu de Arte Moderna do Rio, antes de ir para a França. No dia previsto para a abertura, o MAM foi invadido por militares e a mostra foi impedida de acontecer.
Antonio Dias
Marcelo Nitsche. “Pátria Amada” (1966).
Cildo Meireles. “Inserções em circuitos ideológicos. Projeto Coca Cola” (1970).
Nelson Leirne. Uma Linha Não Dura… Dura…” (1978).
Claudio Tozzi. “Panela de Pressão” (1968).
Marcello Nitsche. “Eu quero você” (1966).
Antonio Dias. “Os restos do herói” (1966).
Claudio Tozzi. “Guevara, Vivo ou Morto” (1967).
Rubens Gerchman. “Super homens 2X0″ (1965).
Claudio Tozzi. “Multidão” (1968).
A obra de Barrio surpreendia os passantes, chamava-os, gerava aglomeração (algo proibido em primeira instância pelo regime) e concentrava o horror do ato de ver e de pensar que aquilo ali poderia ser um companheiro, um filho, uma irmã. Trouxas ensanguentadas falava diretamente com todos esses pais que estavam à procura dos filhos, jovens que saíram de casa e simplesmente sumiram. Disponível aqui.
Na madrugada de 27 de abril de 1979, o grupo 3Nós, formado por Hudinilson Jr., Mário Ramiro e Rafael França, realizou a obra intitulada Ensacamento. Uma ação simples. O grupo listou uma série dos principais monumentos de São Paulo, para depois visitá-los colocando sacolas plásticas nas cabeças dos próceres. O assunto causou confusão e uma série de jornais publicou fotografias sobre o acontecido, de forma que os artistas conseguiram uma voz pública de denúncia, uma via pra mostrar um método de tortura bastante comum na América Latina, a sufocação com sacola plástica, também chamado de o submarino. Ver os monumentos com essas sacolas, assim como tantos estudantes e políticos estiveram durante a década que acabava, resultava impactante. Os monumentos, encarregados de contar a história gloriosa da pátria, iam agora contar a história escondida, não oficial, o lado ruim das honras nacionais. Além do mais, se há algo que os militares adoram são os monumentos, e fazer uso deles para denunciá-los, para mostrar esse lado mesquinho da pátria, tem uma carga de cinismo que torna a intervenção de 3Nós3 brilhante.
Grupos de artistas independentes, como Viajou sem Passaporte, 3Nós3 e D’Magrela, atuaram durante a ditadura militar por meio de intervenções artísticas que buscavam a interação com o público e com os espaços públicos da cidade. Disponível aqui.
A “estética do lixo” da intervenção contraria a ideologia organizada e higienizada ditatorial. 3Nós3, Ensacamento (1979). Fonte: Acervo Mario Ramiro
Foto de Hamilton Grimaldi. Disponível aqui.
Dora Longo Bahia. “Desconhecida I” (1996).
Monumento “Tortura nunca mais”, na Rua da Aurora, Recife. Foi o primeiro monumento construído no país em homenagem aos mortos e desaparecidos políticos brasileiros, e apresenta o corpo de um homem nu em posição da tortura de pau de arara.
A escultura “Projeções da Memória” (foto) homenageia os quatro estudantes da UFMG mortos pela ditadura militar (Gildo Macedo Lacerda, Idalísio Soares Aranha Filho, José Carlos Novaes Mata Machado e Walquíria Afonso Costa),
Foto de Gabriel Santana. “Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos” no Parque do Ibirapuera, São Paulo. Obra realizada pelo arquiteto Ricardo Ohtake, formada por chapas brancas, estão gravados os 436 nomes dos mortos e desaparecidos políticos,
Charge do Ziraldo publicada no jornal O Pasquim, em setembro de 1979. Fonte: Agência Senado.
Charge de Nani publicada no jornal O Pasquim, em março de 1979. Fonte: Agência Senado.
Charge de Luiz Gê publicada no jornal O Pasquim, em 1979. Fonte: Agência Senado.
Charge de Henfil. Fonte: Agência Senado.
Manifestação contra a ditadura na UnB, no aniversário de 59 anos do golpe. Foto: Nathanael Martins Pereira.

Descubra mais sobre B V P S

Assine para receber os posts mais recentes por e-mail.