Trovoadas em dia de chuva, por Frederico Coelho

Como bônus da Hospedagem Vale quanto pesa que encerramos nas últimas semanas, o Blog da BVPS publica hoje texto de Frederico Coelho (PUC-Rio). Nele, o autor propõe um balanço do livro Vale quanto pesa a partir de outro balanço realizado por Silviano Santiago sobre o Modernismo, e argumenta que a coletânea de 1982 permanece como uma experiência simultânea de diagnóstico e prognóstico dos passados, presentes e futuros brasileiros. 

Para saber mais sobre a Hospedagem Vale quanto pesaclique aqui.

Boa leitura!

Trovoadas em dia de chuva[1]

Por Frederico Coelho (PUC-Rio)

I – Balanços

Após uma excelente produção de ensaios textuais e visuais ao redor do convite de Gabriel Martins e André Botelho, este breve texto propõe uma espécie de contrabalanço, isto é, um balanço do livro homenageado a partir de outro balanço feito pelo autor do livro homenageado, criando uma espiral de leituras e encruzilhadas sobre o tema das questões político-culturais do Brasil, esse grande hospedeiro de tudo o que está em jogo nesse espelhamento de balanços e homenagens do que continua muito vivo e em permanente expansão – tanto o país quanto o autor que nos hospeda.

Foi no dia 4 de outubro de 1982 que a editora Paz e Terra lançou nas livrarias brasileiras mais um de seus volumes. Um novo e impactante livro oferecido aos parcos leitores que consumiam de forma corrente literatura e ideias. No número 44 da Coleção “Literatura e Teoria Literária”, cuja direção era composta pelos Antonios – Candido e Callado –, o que o público encontraria no interior do exemplar, com sóbria capa pastel de Laura de Castro, era uma coletânea de quinze ensaios críticos sobre literatura, política e cultura, contendo um poema como abertura e uma entrevista como encerramento. Quinze textos que atravessavam séculos de práticas escritas e discursivas produzidas no espaço brasileiro e em sua ficção. Abrindo e fechando, o poema e a entrevista (concedida à Heloisa Buarque de Hollanda) inscrevem traços pessoais que escapavam do registro acadêmico para demarcar uma subjetivação radical do crítico que era também escritor. Anunciado pelo Informe JB do dia 1º de outubro, Vale quanto pesa, segundo livro de ensaios de Silviano Santiago, era lançado na tradicional Livraria Argumento, espaço da Família Gasparian, também donos cariocas da famosa editora progressista.

No horizonte minguado de leitores de ensaios naquele momento (ou, como o próprio autor aponta no livro, simplesmente de leitores regulares que sustentavam o mercado editorial brasileiro), Vale quanto pesa é um acontecimento crítico que instaura e se instala em diferentes temporalidades. Feito durante um passado recente de “solidariedades religiosas” entre grupos divergentes que se agrupavam sob o guarda-chuva da abertura política e um presente conflagrado por eleições diretas para governadores, podemos ler a coletânea como uma espécie de carta náutica na travessia que era a reorganização das forças políticas da direita e da esquerda e os impactos dessa reorganização no campo cultural do tempo presente.

Outra temporalidade que deve ser levada em conta está na própria elaboração da coletânea, já que seus textos percorrem um período que vai de 1976 (época em que ajuda a organizar e publicar o famoso Glossário de Derrida) até 1982. Como as datas e notas de rodapé demonstram, algumas das ideias de Silviano publicadas em Vale quanto pesa foram escritas tanto na reflexão demorada de bolsas de estudo, quanto na urgência dos prazos para a publicação.

Por fim, uma terceira temporalidade que atravessa o livro se manifesta na convivência dessa produção crítica e ensaísta em concomitância com dois outros fundamentais trabalhos de Silviano (ou três, ou quatro, ou cinco, dependendo do que encaremos como produção para além de livros editados) que são a sua primeira coletânea de ensaios, Uma Literatura nos Trópicos (1978) e o romance Em Liberdade (1981).

Como bem demonstram Gabriel e André no texto de apresentação desta hospedagem, essa encruzilhada de trabalhos (que ainda somaríamos o livro de poemas Crescendo em uma província ultramarina, de 1978) amplia o feixe de leituras sobre a subjetividade de pensador-escritor-criador, cujas páginas de Vale quanto pesa é uma das faces em movimento de um autor que atravessa a segunda metade dos anos 1970 em intensa jornada acadêmica e docente na universidade (especificamente na PUC-Rio) e que abre a década seguinte com um livro muito bem recebido entre o meio crítico, um romance consagrado de imediato no meio literário e a escrita de um novo romance que subverteria uma série de expectativas sobre sua obra (Silviano já estava no processo de pesquisa e escrita de Stela Manhattan). Havia, porém, outra temporalidade em curso nesse agitado 1982.

II – Explicar e destruir

Na primeira vez que li “Apesar de dependente, universal”, o maior impacto pessoal que o texto produziu na minha reflexão crítica sobre o país está na página 17 do referido ensaio. É o parágrafo em que Silviano sintetiza de forma brilhante as encruzilhadas ontológica e epistemológica do intelectual brasileiro e de suas interpretações do país. Pois são eles que vivem “(…) o drama de ter de recorrer a um discurso histórico, que o explica mais que o destruiu, e a um discurso antropológico, que não mais o explica, mas que fala do seu ser enquanto destruição”. Logo após essa sentença, Silviano recorre ao pensamento de Paulo Emílio Salles Gomes, autor-bússola que já aparece no ensaio como uma das epígrafes, para enunciar os dilemas brasileiros e latino-americanos do entre-lugar pós-colonial e dos impasses da criação crítica a partir do subdesenvolvimento: “A penosa construção de nós mesmos se desenvolve na dialética rarefeita entre o não ser e o ser outro”. Ainda no mesmo parágrafo, o arremate do crítico mineiro para tal sentença de Paulo Emílio dá um passo além na elaboração de nossa maquinaria para o desastre ao afirmar que “Somos explicados e destruídos, somos constituídos, mas já não somos explicados”. A saída de um pensamento que se constrói a partir do entre, que se espraia para longe da origem e de suas cristalizações historicistas e que se recusa a abraçar as teleologias iluministas e evolutivas, é afirmar como saída que somos justamente o E, a repetição na diferença, a diferença na repetição. Além de construir uma teoria poderosa contra a dependência do cânone colonial e a sedução autoritária de purezas nacionais, essa saída entre explicação e destruição pode ser também entendido como um método. Explicar e destruir.

Para quem trabalhava com literatura no meio universitário em 1982, aquele era o ano em que se completavam sessenta anos da Semana de Arte Moderna. O tema é devidamente abordado em Vale quanto pesa, ora diretamente, como no ensaio que dá título à coletânea, ora de forma oblíqua, nos diferentes escritos que abordam assuntos ligados ao subtítulo “ensaio sobre questões político-culturais”. Quase todos esses escritos, porém, não foram elaborados em 1982, ou seja, não haviam sido convocados a, como Michel Foucault nos ensinou em sua Arqueologia do saber, revisitar o arquivo brasileiro mais famoso do século XX e o escrutinar “entre a tradição e o esquecimento”. Para essa função, Silviano produziu “Fechado para balanço (60 anos de modernismo)”, um ensaio de alto impacto e qualidade, lido durante a I Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, ocorrida no Anhembi, São Paulo, durante o mês de agosto. O ensaio é uma resposta ao que o crítico João Alexandre Barbosa definiu como “O moderno romance brasileiro”, isto é, uma cristalização do cânone romanesco nacional com base em uma premissa (uma “moldura reflexiva” nas palavras de Barbosa) que envolvia um tratamento específico – e sofisticado – da ficção na sua relação com a forma e a realidade. Nessa proposta de “formação”, teríamos seis nomes basilares: Machado de Assis, Oswald e Mario de Andrade, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Pelo formato do seminário, os outros dois autores convocados a produzirem comentários sobre a proposta de João Alexandre Barbosa foram Benedito Nunes e Silviano.

Nesse momento, o que proporei aqui é uma espécie de puxadinho no convite de hospedagem feita pelos editores: ler momentos chaves de Vale quanto pesa a partir de (hospedado, portanto, em) “Fechado para balanço” – e vice-versa. Como diria Silviano em seus textos, explico-me. Na intervenção – que depois se tornou ensaio em um famoso volume intitulado apenas de O Livro do Seminário (publicado em 1983 pela LR Editores, de São Paulo, com todas as nove falas na íntegra) – Silviano lê com fúria amorosa o projeto crítico de canonização do Modernismo e os desdobramentos que produziam o que ele chamava de um “objeto” em pleno acabamento final naquela comemoração de 60 anos. Da mesma forma, lerei também “Fechado para balanço” me hospedando em Vale quanto pesa a partir do método de “Explicar e destruir” (a “dialética rarefeita” de Paulo Emílio). O método consiste em entender a leitura desconstrutora de Silviano sobre o Modernismo como prática crítica que trabalha contra os paternalismos e imobilismos da crítica universitária brasileira. Nas suas palavras, um “périplo às avessas” que elabora “uma questão delicada porque impiedosa”. Em “Fechado para balanço” encontramos temas centrais de Vale quanto pesa, tais como o enfrentamento do mercado de massas e do livro como objeto de consumo, a originalidade moderna de Lima Barreto, a relação dos intelectuais com o poder ou a necessidade de uma consciência crítica e criativa na literatura contemporânea frente à miséria brasileira.

Lembremos que no ensaio “Vale quanto pesa”, de 1978, Silviano já tinha produzido um acorde dissonante ao demonstrar o papel do memorialismo, ou seja, da tradição burguesa brasileira, na produção romanesca e poética dos modernistas pós-1922. De forma engenhosa, ele demonstra como os nomes ligados ao cânone que se construía até então (os romancistas modernistas) podiam ser lidos no laço entre a ficção e a lembrança da infância e adolescência muitas vezes “pré-moderna” (fazendas, engenhos, cidades pequenas). O “fingimento literário” modernista acusa o golpe da decadência senhorial brasileira e nos conta o passado do poder em vias de modernização industrial e autoritária. Em “Fechado para balanço”, porém, o crítico dobra a aposta na abordagem política-cultural do romance modernista ao apresentar os laços até então silenciados entre os ideais desses romancistas e as práticas autoritárias da primeira metade do século XX no Brasil. Lembrando que Silviano escrevia e falava sobre isso em 1982, ano em que, apesar de eleições estaduais livres e formação de novos partidos como o PT (que o crítico, aliás, foi entusiasta de primeira hora na eleição daquele ano ao assinar cartas públicas de apoio), um general ainda nos presidia sem previsão de eleições diretas para o novo mandante nacional.

O tema central, portanto, que liga boa parte dos ensaios de Vale quanto pesa e a reflexão que resulta em “Fechado para balanço” é justamente a relação dos intelectuais com dois extremos de sua profissão: o público leitor e o Poder – principalmente com sua face autoritária (isso fica evidente em textos feitos nessa atmosfera, como “Repressão e censura no campo das artes na década de 70”, lido em uma reunião nacional da SBPC). Essa dupla demanda atravessa os textos recolhidos para o livro de 1982 e o texto escrito no mesmo ano para falar do aniversário da Semana. O motivo dessa sobreposição é evidente: intelectual sempre contemporâneo aos temas do seu tempo, o que Silviano apontou nessas duas frentes foi o que chamava em entrevistas do período de “desentendimento tácito e profundo” da intelectualidade com as instâncias administrativas do campo cultural e com as formas dinâmicas e palatáveis da cultura televisiva frente a exigência modernista do romance escrito a partir de elipses e hermetismos formais.

III – O público e o poder

Tanto na coletânea de textos quanto no ensaio para o “balanço” do Modernismo, um personagem emerge com uma força de organização e precipitação das ideias de Silviano sobre o intelectual do “pensamento dependente”, cujas reflexões enciclopedistas visando uma síntese explicativa de sua própria destruição resultaria em agônicos produtos de uma “cultura dominada”. Esse personagem é o escritor carioca Lima Barreto. Com “Uma ferroada no peito do pé” (1981), estudo dedicado a Triste fim de Policarpo Quaresma, Silviano propõe a releitura do clássico “menor” de 1913 como força criativa dependente e universal, justamente por enfrentar o tema do popular, ou seja, da formação de um público leitor, através de recursos que a fortuna crítica e vanguardista do Modernismo de 22 não veriam com bons olhos. A redundância e o “gancho” folhetinesco de Lima Barreto, temas de abertura do ensaio em Vale quanto pesa, ganham força de pharmakon no desmonte do “moderno romance brasileiro” proposto por João Alexandre Barbosa. De alguma forma, o elogio à escrita popular de Lima Barreto se concretiza com uma proposta de literatura brasileira que decide se comunicar com o mercado editorial, disputar um leitor popular e oxigenar a seriedade e exigência formalista que encapsulavam o cânone nacional pós 1945. Lima Barreto seria a saída sadia (a semente?) e exemplar para os novos romancistas que surgiam naquele período de transformação política no país. Ele poderia reunir as qualidades necessárias para o escritor e o crítico daqueles tempos, isto é, atravessar as frustrações das utopias revolucionárias pós-1960, aceitar que a modernização institucional e mercadológica da cultura vinha sendo feita pelos algozes militares e buscar na popularização das letras um espaço na arena cultural que já tinha na canção popular e nas novelas os novos poemas e folhetins que alimentavam a imaginação pública do país.

Não foi apenas Lima Barreto, porém, que Silviano sugere como ponto de fuga ao cânone modernista cristalizado por João Alexandre Barbosa. Em “Fechado para Balanço”, o crítico traz a obra máxima de Euclides da Cunha, Os Sertões, como outro paradigma que a fortuna crítica sobre a modernidade brasileira não podia deixar pelo caminho. Nesse caso, o que permanece para o tempo contemporâneo é a reflexão do intelectual sobre suas relações com o poder e com a população ao seu redor. Como Silviano atesta em “Apesar de dependente, universal”, o que adianta sermos atualizados e cosmopolitas no campo cultural se o progresso segue gerando subempregos e miséria às minorias que vivem em “terras tão preconceituosas e tão autoritárias”? Na conversão de Euclides da Cunha entre o observador neutro da ciência e o escritor engajado na crítica ao massacre que o povo de Canudos sofria, podemos encontrar a reflexão necessária dos intelectuais e seu papel frente às tentações autoritárias que a modernização brasileira os ofereceu.

Nesse tema, também podemos criar outra contraleitura especulativa entre nossas duas hospedagens: se em Vale quanto pesa Silviano ativa o diálogo poético e político entre paulistas e mineiros, em “Fechado para balanço” quem ocupa o lugar dos poetas concretos de São Paulo são os tenentes das décadas de 1920 e 1930. No caso do texto da coletânea, o tema era a aliança estratégica entre grupos vanguardistas de poetas (o grupo Tendência, de Minas e o grupo Noigrandes, de São Paulo), em resposta à hegemonia dita “populista” da primeira metade da década de 1960. Já no caso do balanço modernista, o que temos é uma aliança ao redor da necessária modernização da sociedade e de seu desdobramento no Estado Novo. Se os experimentais poetas paulistas e mineiros se complementaram através do lastro internacional dos primeiros e do enraizamento nacional dos segundos, a aliança entre tenentes e intelectuais mineiros realiza o casamento entre a tomada do poder e a planificação do Estado – ou entre militares e políticos burgueses. Curiosa rasura pode ser aqui proposta ao pensarmos que o papel vanguardista (ou seja, de etimologia militar) dos poetas concretos de São Paulo adentrava como força irruptiva (ou mesmo destrutiva) a pasmaceira da cena cultural brasileira pós-1945 e que esse encontro com o grupo mineiro Tendência seria, segundo Silviano, a possibilidade de adensamento político a partir do material gerado pelo “nacionalismo crítico” presente, por exemplo, em pesquisas sobre o Barroco colonial como campo experimental de criação.

Não havia, portanto, como pensar as comemorações e balanços da experiência modernista paulista que fazia sessenta anos sem desnudá-la em suas limitações no tempo presente. Limitações, vale frisar, produzidas pelos ciclos interpretativos dessa produção feita entre os anos de 1930 e 1960. Afinal, se o modernismo de 1922 era mesmo a “força fatal” reivindicada por Mário em sua famosa conferência na Casa do Estudante em 1942, quais seriam suas responsabilidades frente ao parco número de leitores disponíveis para a literatura, ao autoritarismo que só piorava no país, ao racismo que atravessava a poesia e a prosa dos escritores surgidos no bojo de experiências contemporâneas a Vale quanto pesa e ao aniversário de 1922 como foram os Cadernos Negros (tangenciado à distância no breve texto sobre A Cor da pele, livro de poemas de Adão Ventura)? Quais as responsabilidades do intelectual brasileiro que via um mercado de massas se abrir à sua frente ao mesmo tempo em que precisava dar conta das arestas abertas pela forçada aliança de liberais e esquerdistas (em suas mais variadas vertentes) contra a censura e o arbítrio durante a década de 1970? Tanto em Vale quanto pesa quanto em “Fechado para balanço” o que vemos em seus finais – seus últimos acordes ressoando ao leitor – é a preocupação de Silviano com esses temas. No livro, a entrevista de encerramento com Heloisa Buarque enfeixa os temas da dependência, do mercado e do poder, não os descolando das transformações teóricas e acadêmicas que precisavam acompanhar as transformações políticas e econômicas do país (que, aliás, não vieram como se esperava naquele momento de abertura). Já no texto do seminário, Silviano abre seu parágrafo final como um diagnóstico e uma missão: “Se a grande lição de Lima Barreto é a de uma escrita popular e, ao mesmo tempo, crítica, a de Euclides é a de um saber que, ao se desvincular do autoritarismo inerente ao grupo que o detém e a si mesmo, volta seus olhos para os vencidos, enxergando neles uma verdade que escapa às diretrizes excludentes da modernização”.

Nessa multiplicidade de balanços – tanto como substantivo que aponta a necessidade de se passar a limpo e arrumar o campo cultural do país, quanto como verbo que balança de um extremo a outro dos temas para nunca sair de sua posição entre os lugares dependentes do poder e do público – Vale quanto pesa permanece como uma experiência simultânea de diagnóstico e prognóstico dos passados, presentes e futuros brasileiros. Em uma entrevista concedida a Oswaldo Mendes em 1981, Silviano rejeita a ideia repressiva de “Patrulhas ideológicas”, termo corrente proposta na época por Cacá Diegues para balizar os debates culturais e políticos do país, em prol de um pensamento público que assumisse, finalmente, “as diferenças e a oposição de projetos”. Com a coletânea publicada em 1982 e o ensaio sobre os sessenta anos do modernismo, o crítico mineiro atiça a brasa das diferenças, provoca a suposta universalidade cosmopolita (porém excludente) da crítica e abre frentes novas para o campo acadêmico de estudos sobre a realidade política-cultural do país. Sua meta fora nos mostrar os limites que o período pós-guerra (e pós-Estado Novo) havia nos colocado para pensarmos um país que, apesar de aspirar ser universal, seguia dependente. Os sessenta anos do modernismo de 22, portanto, podem ser entendidos aqui como palco dessas disputas, no qual o crítico se vê, tanto como escritor quanto como romancista, imbricado na missão de renovar os olhares sem perder o horizonte da tradição.


Nota

[1] O título deste ensaio é retirado de uma entrevista concedida por Silviano Santiago ao jornal Estado de Minas, publicada em 3 de outubro de 1981.

A imagem que abre o post é de autoria de Lena Bergstein, Série Galáxias, 2018. Fotografia e superposições


Descubra mais sobre B V P S

Assine para receber os posts mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário