Simpósio BVPS | Essa tal classe média (III)

No terceiro post do simpósio sobre classes médias no Brasil temos como convidadas/os Antonio Brasil Jr. (UFRJ), Antonio Sérgio Guimarães (USP), Fernando Tavares Jr. (UFJF) e Salete Cavalcanti (UFPE).

Organizado por Celi Scalon (UFRJ), André Botelho (UFRJ) e João Mello (PPGSA e NEPS/UFRJ), o simpósio ouviu especialistas de diferentes áreas das ciências sociais, humanas e literaturas, bem como de várias especialidades dessas áreas, sobre a relevância e a atualidade do tema. O diálogo multidisciplinar entre especialistas e não especialistas em classes médias tem o objetivo de promover trocas teóricas, históricas e empíricas e também investigar a possível multidimensionalidade e transversalidade do tema que discutimos.

Para ler a apresentação escrita pelos coordenadores do simpósio, basta clicar aqui. Os posts anteriores podem ser acessados aqui e aqui. Continue acompanhando o simpósio nas próximas quartas-feiras!

Boa leitura!


Sobre as/os convidadas/os:

Antonio Brasil Jr. é professor de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Autor, entre outros, de Antología del pensamiento crítico brasileño (2018) e Passagens para a teoria sociológica: Florestan Fernandes e Gino Germani (2013).

Antonio Sérgio Guimarães é professor de Sociologia da Universidade de São Paulo. Autor, entre outros, de Classes, raças e democracia (2012) e Modernidades Negras: A formação social brasileira (1930-1970) (2021).

Fernando Tavares Júnior é professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora. Autor, entre outros, de Rendimento Educacional no Brasil (2018) e O Plano Nacional de Educação e o MATOPIBA: diagnóstico e perspectivas (Org. 2021).

Salete Cavalcanti é professora titular de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco. Autora, entre outros, de Globalização, segurança alimentar, feminismo e agroecologia (2022, Org.) e Labor relations in globalized food (2014).

1. O que a seu ver identifica/define uma pessoa de classe média? Esses elementos mudaram ou se mantiveram ao longo das últimas décadas?

Antonio Brasil Jr.: A identificação ou definição de alguém como pertencente à classe média é sempre relacional e, portanto, contextual. No Brasil, historicamente, a formação da classe média remonta aos heterogêneos estratos intermediários que, embora existentes desde a Colônia, foram se expandindo ao longo do século XIX, seja pelos limitados canais de mobilidade social ascendente disponíveis (a montagem de uma máquina burocrática para o novo Estado e as exigências do comércio interno e externo ampliavam os postos de trabalho, especialmente nas maiores cidades), seja pela decadência de setores tradicionais.

No entanto, a existência da escravidão e, com ela, de uma linha de demarcação taxativa entre “livres”, “libertos” e “escravos” não favorecia que esses estratos intermediários pudessem reivindicar algum tipo de identificação coletiva como classe média, seja em termos materiais, seja em termos simbólicos. A condição de pessoa livre, mesmo que apenas remediada, reunia proprietários e não-proprietários em seu reconhecimento mútuo como “pessoas”, a despeito das imensas disparidades em termos de renda, poder e prestígio social. E, para complicar ainda mais as coisas, como vários estudos clássicos sobre os setores livres e não-proprietários em contexto escravista já apontaram, parte significativa daqueles que poderiam ser chamados algo anacronicamente de “classe média” no século XIX dependiam da mediação do favor dos proprietários a fim de se reproduzir socialmente, atrelando o seu destino aos valores e interesses dos setores propriamente dominantes.

A abolição da escravidão, apesar de abalar a autoevidência da distinção entre pessoas livres e escravizadas, não alterou estruturalmente a situação, pois os estratos intermediários seguiam atualizando sua diferenciação em relação ao que Maria Sylvia de Carvalho Franco denominou de “ralé estrutural”. A voga racialista que informou grande parte do debate intelectual e parte significativa das políticas públicas nos inícios do século XX (políticas sanitárias e de saúde pública, políticas imigratórias etc.) reforçou essa distinção com critérios raciais, tornando a linha divisória entre as camadas médias e os setores populares basicamente uma linha separando brancos e não-brancos.

Os processos de urbanização e de industrialização acelerados em meados do século XX, em particular no centro-sul do país, assentaram as bases para uma diferenciação mais expressiva de uma classe média, tanto em termos materiais quanto em termos simbólicos. Essa classe se beneficiou de modo considerável das políticas desenvolvimentistas e se tornou a base do mercado interno de consumo de bens duráveis e não-duráveis, bem como o público preferencial da expansão do ensino secundário e superior público. O acesso ao emprego formal, com suas garantias trabalhistas e previdenciárias, e o ingresso no ensino superior assentaram a relativa estabilidade material e simbólica deste segmento, igualmente alicerçada no recurso à abundante oferta de trabalhadoras domésticas mal remuneradas e quase desprotegidas juridicamente do arbítrio de seus patrões. Essas condições privilegiadas reatualizavam, mais uma vez, uma distinção taxativa entre a “classe média” e os “de baixo”, mesmo com a considerável expansão das camadas médias ao longo da segunda metade do século XX.

O cenário contemporâneo parece desafiador, sociologicamente, pois o horizonte de estabilidade das “classes médias” parece se desfazer diante da generalização da precarização das relações de trabalho e da expansão do ingresso das camadas populares no ensino superior. Ainda que a vantagens de ser socializado na condição de “classe média” sejam obviamente notáveis e tenham efeitos estruturantes na reprodução das desigualdades, a autoevidência da distinção com os “de baixo” parece se enfraquecer, ativando medos reais ou fantasmáticos de mobilidade social descendente e perda do reconhecimento social. Esses medos, que podem ser muito palpáveis para as franjas mais baixas da classe média, foram mobilizados intensamente nos últimos anos pela extrema direita, tornando-as fiadoras de um projeto radical de dessolidarização social.

Antonio Sérgio Guimarães: “Classes médias” se refere a um agrupamento feito por um analista, não sendo necessariamente um grupo. Isto é, são classes desenhadas com um certo propósito analítico, sem implicar necessariamente em consciência política. A principal referência para sua construção é a estrutura social, entendida como possível mapa de interesses e recursos econômicos, culturais, sociais e políticos que agentes sociais podem desenvolver a partir das interações sociais e dos agrupamentos institucionais. A base fundamental dessa estrutura é a posição econômica, no que se refere especificamente ao grau de autonomia que um agente social particular desfruta para reproduzir as suas condições de existência. Essa autonomia, sem ser absoluta, como no caso de detentores de capital e ativos que tenham a sua reprodução garantida pela reprodução da ordem econômica – detentores de grandes propriedades e grandes fortunas que são essenciais para a reprodução do sistema econômico como um todo – também não é precária ao ponto de ser apenas operacional para o desempenho de uma função – como a de um operário, ou de um vendedor, que precisa ser livre apenas para negociar seu salário ou sua mercadoria. Assim, as classes médias gozariam da autonomia financeira e econômica suficiente para se reproduzir como autônomas por alguns ciclos econômicos.

O horizonte desse ciclo, o tipo de ativo ou capital apropriado, sua quantidade etc. são os elementos que definem os diversos setores da classe média. Um empreendimento comercial de tipo médio ou pequeno; uma propriedade rural produtiva; um consultório; uma posição assalariada estável que permita alguma poupança; ativos e rendas estáveis etc. O importante para definir as classes médias é que essa autonomia tenha um horizonte estável de reprodução. A desaparição de cada um dos agentes não ameaça a reprodução do sistema e seu horizonte de reprodução é razoavelmente estável. Como defini, as classes médias têm ganhado importância com o desenvolvimento capitalista, assim como tem aumentado o número de classes cuja situação é precária e vulnerável, e cuja autonomia envolve situações de violência e de enorme risco pessoal.

Fernando Tavares Júnior: Tal como Darcy vislumbra o nascimento de uma “brasilidade” a partir da “ninguemdade” – da mestiçagem que produz aquele que não é mais indígena, nem europeu, nem africano, logo brasileiro –, as classes médias se identificam e se definem no enorme hiato entre a pobreza, a senzala, a exclusão social e as elites histórica e estruturalmente constituídas, a riqueza, o senhorio (cf. Freyre), por vezes coronelista e sequer poliárquico (cf. Dahl). Percebem que não são mais pobres, mas, por mais que ascendam, seus estratos superiores percebem que são ainda dominados, tem uma “elite” acima. São muitas classes médias, plurais, e com marcadores que mudam muito ao longo do tempo. Famílias se reconhecem “médias” após conheceram de perto a pobreza e desigualdade no qual o Brasil se forjou e começarem a ter a percepção de mobilidade (cf. Scalon), com o ingresso nos estratos médio-baixos ao alcançar marcadores socioeconômicos, a priori, simples, como ter sucesso num pequeno negócio ou trabalho autônomo e estabilizar as contas mensais, comprar um carro (parcelado), construir uma habitação (num terreno familiar), diploma ou uma filha na faculdade. Por outro lado, mesmo níveis elevados de consumo, como alcançados por elites profissionais, ainda dependem do trabalho e não são passados diretamente a seus filhos. Classes são estruturais, topológicas, e não meras linhas de estratificação econômica. São localizações contraditórias (cf. Olin Wright). Por outro lado, classes médias tendem a ser também propositivas, dependentes e exigentes com o Estado e, por vezes, inovadoras. A superação do capitalismo não se dá apenas por movimentos políticos, mas pela gestação de novas formas de socialização e produção no seio de suas classes médias. “Revoluções” podem trazer ganhos da planificação econômica, mitigação de desigualdades e mesmo “domesticação” do capitalismo, mas não sua superação. Classes médias podem ser ativas, criativas, inventivas, produtoras de múltiplas sociabilidades, positivas e/ou perversas.

Salete Cavalcanti: O conceito de classe média tem sido objeto de grande discussão nas ciências sociais. Citem-se, por exemplo, os trabalhos de Pierre Bourdieu e Eric O. Wright. Esses autores trataram de encontrar indicadores seguros para análise. Entretanto, classe média é, ainda, um conceito polêmico. Bourdieu usa, por exemplo, o conceito de habitus de classe como elemento de distinção. Segundo minha percepção, uma pessoa de classe média é aquela que reúne elementos essenciais para a vida e sobrevivência e que se enquadra em setores médios (definição polêmica) de uma dada sociedade. Esse conceito de classe média varia de sociedade a sociedade. Em geral, alguém de classe média deve ter uma formação técnica/profissional que lhe permita um certo poder, autonomia sobre o seu trabalho, uma renda compatível às suas necessidades de viver, morar, conviver e trabalhar. As contribuições de Amartya Sen sobre desigualdades ajudam. Entretanto, essa autonomia no trabalho vem sendo continuamente revista, no contexto do trabalho em equipes e responsabilidades impostas ao “colaborador”. Naturalmente, alguém que reúne formação adequada à realização de trabalhos profissionais de alto nível, mas nasceu em territórios com precária oferta de bens e serviços, poderá ser visto, relativamente, como de classe média, ou não, segundo habitus de classe e sua posição mais ou menos elevada naquela estrutura social. Em outra situação, com as mesmas qualificações profissionais, uma pessoa que mora em espaços que ofereçam condições básicas de moradia, saúde e educação, boa acessibilidade e uma renda compatível com uma participação plena na sociedade, pelo acesso ao lazer, bens culturais para o exercício de sua cidadania, enquadra-se ao nível, relativamente, alto de classe média. É importante entender que há níveis de classe média a explorar.

2. Como o tema aparece no seu campo de pesquisa e qual a relevância dele para os fenômenos que estuda?

Antonio Brasil Jr.: As classes médias, em suas múltiplas dimensões, foram objeto de reflexões em muitos dos livros que conformam o acervo textual das chamadas “interpretações do Brasil”, acervo que constitui o cerne das pesquisas na área de Pensamento Social no Brasil, na qual me situo. Em parceria com André Botelho, venho discutindo, pelo menos desde 2016, os rendimentos heurísticos da interpretação de Florestan Fernandes sobre as classes médias no país, seja para a reflexão da crise democrática do Brasil contemporâneo, seja em comparação com outras interpretações sobre o lugar e o papel destes setores na formação histórica da sociedade, como a de Antonio Candido.

Além disso, em colaboração com os colegas Celi Scalon, Andre Bittencourt e Helena Bomeny, ofereci um curso no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no segundo semestre de 2021 sobre as “classes médias à brasileira” e, nele, dedicamos um módulo inteiro ao rastreio desta categoria – “classe média” – em alguns dos clássicos das nossas ciências sociais, uma vez que entendemos que não podemos nos privar do acúmulo intelectual que este repertório nos oferece sobre o tema, bem como da perspectiva histórica nele contida.

Na disciplina, perseguimos o que seria uma espécie de “sequência cognitiva” que acompanhou reflexivamente o próprio processo de emergência, diferenciação e consolidação de camadas médias (ou classes médias) no Brasil. Digo que acompanhou reflexivamente porque o conjunto de textos que acionamos na disciplina incluía um arco que ia desde fins do século XIX até meados do século XX, e atuaram, com maior ou menor vigor, nas formas de auto-observação da sociedade brasileira. Como sabemos, a fim de agir socialmente, indivíduos e grupos recorrem ao estoque de observações (muitas delas disponíveis textualmente, com sentidos obviamente abertos) disponível sobre como a sociedade brasileira se formou e se organiza, e estas auto-observações vão se atualizando em projetos políticos, legislações, movimentos sociais etc.

Grosso modo, a sequência que identificamos ia desde a constatação da quase ausência ou mesmo improbabilidade de classes médias no país, tópico recorrente no nosso ensaísmo sociológico (por exemplo, em O abolicionismo, de Joaquim Nabuco, e em Populações meridionais do Brasil, de Oliveira Vianna), até a pesquisa empírica monográfica, realizada já na universidade, das classes médias realmente existentes que, ao fim e ao cabo, acabaram se formando em fins do século XIX e que ganharam corpo e fisionomia mais próprias durante o processo de urbanização e industrialização em meados do século XX. Se a constatação da ausência ou da improbabilidade de classes médias no Brasil, em nosso ensaísmo, tinha como pressuposto a visão de que as classes médias seriam esteios sociais fundamentais de uma ordem democrática – o que ia a par de prognósticos mais ou menos autoritários quanto às maneiras políticas de se alterar a situação do país –, a pesquisa sobre as classes médias que, bem ou mal, se formaram no Brasil urbano e industrial – penso aqui sobretudo nas pesquisas de Florestan Fernandes – chamava a atenção para as suas ambivalências e limites em liderar um projeto democrático de sociedade, tornando-se antes uma espécie de fiadora da reprodução de desigualdades e assimetrias sociais herdadas do passado.

Voltando agora a Florestan, parece-me particularmente instigante a reflexão que o autor faz das classes médias em um livro à primeira vista insuspeito sobre o tema: A integração do negro na sociedade de classes, de 1964/1965. Clássico livro sobre nossas relações raciais, há pouco reeditado, ele não deixa de apresentar também uma instigante reflexão sobre os limites e possibilidades das nossas classes médias realmente existentes para a construção de uma ordem democrática. Lembremos que vigiam com força à época as teses da sociologia da modernização, que consideravam a expansão de classes médias requerimento funcional para a existência de um regime político democrático.

De saída, no primeiro volume do livro, Florestan assinala a difícil afirmação dos negros no mundo dos brancos no contexto de modernização vertiginosa que fazia de São Paulo a principal cidade industrial do país. Se, de um lado, a cidade parecia bastante aberta à ascensão social dos imigrantes (todos brancos, ou quase brancos) de primeira ou segunda geração, que acabaram conformando o grosso do que seria a primeira diferenciação de uma classe média na capital paulista, ela se revelava basicamente fechada para a população negra. Florestan mostrava como a eficácia do mito da democracia racial era um dos elementos de reprodução das desigualdades, já que deslegitimava a luta racial e, por consequência, a luta pela reversão das desigualdades. Florestan dizia ser algo aberrante que mesmo os imigrantes, a princípio menos atrelados aos códigos morais e aos interesses senhoriais que conformaram a sociedade brasileira, também se mostrariam indiferentes às bandeiras do movimento negro da capital, em particular da Frente Negra Brasileira.

Entrando agora no segundo volume, menos lido que o primeiro, mas talvez por isso mesmo menos mal lido, entramos também no universo da conformação de uma classe média negra em meados do século XX. De uma difícil classe média, vale ressaltar, que vivia aquilo que ele provocativamente chamava de “inferno da ordem”, a saber, uma espécie de autopoliciamento severo (“puritanismo radical”) que sugava as melhores energias destes indivíduos em ascensão social – indivíduos que lutavam a duras penas pelo reconhecimento mínimo de seu status de classe média, dificultando uma luta concentrada em escala coletiva, seja com os demais negros de classe média, seja com a população negra pauperizada e vulnerável.

A rigor, Florestan entendia o seu livro como uma análise sociológica da difícil ressocialização de agentes sociais forjados em universo escravista e senhorial, ou em universo rústico e plebeu (caso da maioria dos imigrantes), para os valores e requerimentos de uma ordem social democrática – seja por parte dos antigos senhores, seja especialmente por parte dos antigos escravizados e libertos, e mesmo para essa figura decerto problemática do imigrante europeu. Essa dificuldade de enraizamento social e nas personalidades dos agentes de um estilo de vida democrático mostrava sua insuperável nitidez no “inferno da ordem” a que necessariamente se submetia essa camada média negra em ascensão, justamente por levar a sério demais a autocontenção e a racionalização exigida pela modernização da sociedade. Que indivíduos ajustados às exigências da modernidade fossem tratados como se estivessem em uma sociedade estamental e de castas, excluídas, portanto, do reconhecimento social – a sua condição de classe não era suficiente para receber os tratamentos e prerrogativas correspondentes a esta condição – revelava, para Florestan, que a classe média (esse suposto suporte dos valores modernos), em que pese ocupando os postos mais estratégicos de uma economia industrial em expansão, continuava se orientado por códigos morais e sociais assentados no privilégio, na qual a ideia substantiva de igualdade e de universalidade perdia pé.

Em A revolução burguesa no Brasil, embora tratando mais especificamente das camadas médias na passagem do século XIX para o século XX, no famoso fragmento que compõe o quarto capítulo, Florestan amarra melhor sua interpretação de como as camadas médias e as atuais classes médias atuaram, historicamente, mais como instâncias de legitimação social do privilégio e da desigualdade do que fermentos realmente potentes no sentido da democratização social. André Botelho e eu analisamos a capacidade de interpelação contemporânea deste argumento em um texto de 2017, escrito no calor do processo golpista que redundou no impeachment de Dilma Rousseff. É como se as classes médias, para Florestan, fossem muito sensíveis aos riscos de desnivelamento social e tentassem a todo custo manter certas delimitações no estilo de vida, mas também do ponto de vista racial, em relação aos grupos vistos como pauperizados e/ou subalternos.

Seja como for, o repertório textual que foi acompanhando reflexivamente a constituição difícil de classes médias entre nós foi anotando aspirações, impasses, limites e problemas na análise desta camada social e, no mesmo passo, deixando à nossa disposição insights, propostas e perguntas que podem ser bastante úteis na análise deste fenômeno. A pesquisa empírica contemporânea, baseada na melhor sociologia da estratificação e da desigualdade hoje, pode e deve acessar esse repertório, seja para ganhar perspectiva histórica, seja para confirmar ou desestabilizar suas teses, seja ainda – e isso é o mais importante para os pesquisadores da área de Pensamento Social no Brasil – para irritar e mostrar os possíveis pontos cegos existentes nas nossas mais assentadas formas de auto-observação da sociedade brasileira.

Antonio Sérgio Guimarães: A formação de classes médias negras ensejou nas Américas, inclusive no Brasil, um renascimento cultural importante nas artes, na literatura, na religião e na política. Chamado de New Negro nos Estados Unidos, “Novo Negro” por Florestan Fernandes, o adensamento de negros em posições econômicas estáveis e autônomas nas cidades brasileiras proporcionou a formação de associações e grupos sociais no Brasil republicano, dando lugar ao que chamei de “modernidade negra”: formas de representação autônomas de si, artísticas ou políticas, ensejando o reconhecimento dos negros pelo Estado e à sua incorporação à ideia de nação. Foram novas formas religiosas, como o candomblé e a macumba; novas formas de expressão estética, tais como o samba, o maxixe e o choro; novas formas de esporte e danças, como a capoeira ou o futebol espetáculo; novas formas de protesto político e de associativismo; enfim, novas formas culturais incorporadas ao imaginário nacional. Esses segmentos de classes médias negras se recusavam a participar do processo de embranquecimento cultural e racial, inspirando os responsáveis pela formação da ideologia que marcou quase todo o período republicano no pós-1930 – a democracia racial. Apenas a formação de uma ideologia de mestiçagem e democracia racial foi capaz de reestabelecer a hegemonia cultural às classes dominantes. Antes disso, segmentos das classes médias negras protagonizaram um processo muito interessante: buscaram exercer ativamente, através de clubes recreativos, de jornais impressos, de associações culturais, uma inegável liderança social no campo educativo, político e dos costumes. Isso foi possível através da mobilização da ideia de raça como identidade transversal às classes sociais.

Fernando Tavares Júnior: Aparecem no século passado, no seio dos estudos de acesso ao ensino superior, ainda nas últimas décadas do último século, e do valor do diploma ao longo das últimas gerações, em estudos comparados com as transformações ocorridas principalmente na Europa e nos Estados Unidos no pós-guerra e que, tardiamente, se vislumbravam no Brasil. São temporalidades e contextos muito diferentes, mas que, ao mesmo tempo, experimentaram processos estruturais com elementos similares, como a transição das estratificações verticais para também horizontais e a emergência de uma lógica posicional para valoração dos diplomas argumentada desde 2005-2007, depois atualizadas entre 2009 e 2012 em artigos e apresentações na SBS e ANPOCS.

Quando se dedica ao estudo das mobilidades sociais e do ensino superior no Brasil, as reflexões acerca das classes médias estão estruturalmente engendradas. Neste aspecto, é relevante reiterar a pluralidade do conceito de classes médias: diversas, antagônicas, contraditórias, múltiplas, amplas. São dinâmicas sociais que tendem a forjar as disputas, os anseios, os comportamentos, as ideologias e formas de pensar o mundo de amplas camadas da população e que estão todas articuladas em torno das reflexões das classes médias, dos planos e tomadas de decisão para alcançar esses estratos, bem como, de outro lado, de suas estratégias de reprodução, da estrutura de capitais e todo um arcabouço teórico e empírico em torno da compreensão das dinâmicas sociais contemporâneas.

Salete Cavalcanti: O estudo das classes sociais, e das classes médias, tomou grande esforço de cientistas e acadêmicos. Apoiado nos aportes de Karl Marx – segundo os quais os detentores de bens, de propriedade dos meios de produção e do capital constituem uma classe, em contraste com outra, formada por aqueles que são detentores, apenas, da sua força de trabalho –, formou-se uma visão polarizada da sociedade, dividida entre a burguesia e o proletariado, separando, em termos simplistas, os sujeitos envolvidos no trabalho daqueles que controlavam os bens, as mercadorias, a propriedade e os meios de produção. Essa polarização das classes retratava uma sociedade baseada na exploração e na propriedade da terra, cuja população vivia no campo, e foi intensamente discutida nos estudos do campesinato. Autores como Lenin e Chayanov contribuíram para um extenso estudo sobre diferenciação social e diferenciação demográfica. Aparentemente, a divisão da sociedade entre as classes polares relegaria a segundo plano uma classe em si, os camponeses, aqueles que, ainda tendo as suas bases da existência na terra e pelo controle da terra, assemelhavam-se às classes médias, o que, segundo Marx em O 18 de Brumário, os levaram a se associar às classes patronais, embora essa crítica tenha sido revista posteriormente. Para encurtar a longa história, o conceito de camponês e o desaparecimento da categoria estiveram no centro do debate. Teodor Shanin e outros continuam na atualidade nos estudos sobre Globalização dos sistemas agroalimentares, trabalho e gênero nos espaços da agricultura de exportação e embates sobre expropriação dos territórios indígenas e camponeses, o marco temporal e a resistência às políticas neoliberais de apropriação das terras indígenas.

3. Como você vê o protagonismo político desses grupos, especialmente, nas últimas duas décadas?

Antonio Brasil Jr.: Como já assinalei nas duas respostas anteriores, as pesquisas e cursos que venho conduzindo com colegas da área de Pensamento Social no Brasil vêm chamando a atenção para uma certa continuidade histórica na atuação desses grupos que, a despeito de sua enorme heterogeneidade (em termos de interesses, valores e trajetória), atuam antes como fiadores de uma ordem de privilégios do que como protagonistas de um projeto democrático de sociedade. Por mais que a distância entre as classes médias e os setores propriamente dominantes e com poder na sociedade brasileira seja considerável (e crescente, talvez), a necessidade de delimitação social e racial em relação aos “de baixo” parece constituir o cerne da dinâmica de identificação que constitui esses grupos.

Nas duas últimas décadas, processos de diferentes níveis e escalas parecem ter aumentado a sensibilidade das chamadas “classes médias tradicionais” em relação aos riscos de desnivelamento social. De um lado, espaços sociais cruciais para a reprodução material e simbólica do status de classe média foram ocupados em escala inédita por grupos de extração social e racial diversa, como no caso decisivo das políticas de ação afirmativa nas universidades públicas. De outro lado, as políticas econômicas empreendidas nos governos do Partido dos Trabalhadores no sentido de um maior formalização do trabalho manual e de valorização do salário mínimo alteraram o cenário anterior de uma oferta abundante de trabalho feminino mal remunerado e desprotegido para os serviços domésticos – não por acaso, muitos filmes e livros sobre a relação patrão/trabalhadores domésticos tematizaram abertamente um novo cenário em que, no lugar da acomodação, essa relação aparecia de modo mais abertamente conflitivo. Por fim, a desregulação geral da economia e as incertezas quanto ao cenário futuro, em termos trabalhistas e previdenciários, ajudaram a minar a segurança (antes muito maior) de sua condição de classe e de sua distinção (antes tida como autoevidente) em relação às camadas populares.

Sem pretensão de esgotar o assunto, e em diálogo com o conhecimento acumulado nas nossas ciências sociais, parece que essa maior sensibilidade ao risco de desnivelamento social ajuda a explicar a radicalização das classes médias à direita e sua adesão massiva ao bolsonarismo. Nas mobilizações massivas capitaneadas pelos setores médios em 2015-2016, cartazes com a expressão “Quero meu Brasil de volta” (e assemelhados) eram sintomáticos.

Resta ainda ver se estamos assistindo a um fenômeno de formação de uma nova classe média negra, inédita no país em termos de volume e capilaridade, graças às políticas de ação afirmativa das últimas duas décadas. Ao que tudo indica, nesses grupos há um espaço considerável para a tematização crítica dos privilégios de classe e de raça que marcaram historicamente a classe média entre nós, além de um esforço consistente no sentido de se alterar as formas básicas pelos quais a sociedade brasileira se auto-observa (como estruturalmente racista, e não como racialmente democrática). Se é verdade que as classes médias entre nós também abrigaram um radicalismo democrático, muito ligado à experiência universitária, talvez este processo em curso de ampliação de uma classe média negra, a partir de novas pautas e reivindicações e com forte enraizamento no debate racial, torne esse radicalismo em um fenômeno menos marginal no interior dos setores médios. Mas, obviamente, aqui são apenas pistas que devemos seguir com muita pesquisa empírica.

Antonio Sérgio Guimarães: Normalmente, os segmentos de classes médias têm três tipos de comportamento político, que são complementares. Primeiramente, exercem o que ficou conhecido como “minoria silenciosa”, ou seja, um modo conservador de atuar politicamente no sentido de manter o status quo, geralmente pelo voto e pela força da opinião pública. Mas, em segundo lugar, provém dessa camada social os quadros intelectuais – burocratas, tecnocratas, cientistas, professores, políticos, jornalistas etc. – que representam os interesses econômicos das classes dominantes e, de certo modo, pactuam a direção das mudanças sociais. Em terceiro lugar, saem também de suas fileiras os intelectuais e ativistas reformadores e revolucionários. Foi assim com movimentos sociais importantes – o tenentismo, o integralismo, o movimento estudantil etc. O que há de novo na política atual é que a revolução tecnológica digital, que ensejou a formação de redes de comunicação social através da internet, vulgarizou a figura do influenciador, que compete com o intelectual público na mobilização política das classes médias, e dando muito maior protagonismo político à agenda conservadora. O potencial autoritário dessa nova direita é atualmente a maior ameaça à ordem democrática nos países europeus e americanos.

Fernando Tavares Júnior: Vejo uma confusão entre os conceitos, bem como nas análises. Experimentamos, não só no Brasil, como na América Latina de forma geral, movimentos de ampliação e retração das classes médias, de ciclos (relativamente breves) de crescimento econômico e desenvolvimento social seguidos por novos ciclos (mais longos e estruturais) de crise, que temos vivido até hoje. Esses ciclos foram acompanhados, especialmente nos últimos dez anos, por tendências de polarização ideológica e política que permeiam não só as classes médias, mas a sociedade como um todo. Vivemos hoje num país fragmentado, dividido, com chagas de sua formação social hoje ainda mais expostas. Houve outros protagonismos, de cunhos ideológicos, políticos, demagógicos, econômicos, oligárquicos e patrimonialistas que se aproveitam dessa conjuntura, mas não vejo como protagonismos propriamente das classes médias, até porque elas também estão cindidas – sofrem de mazelas similares às que acometem a sociedade como um todo. O tema da “formação”, como há tempos já destacara Roberto Schwarz, é um tema por vezes relegado na interpretação do Brasil. Há processos estruturais, típicos da modernidade e do capitalismo, que nos afetam, de forma direta ou tardia, tal como afetam sociedades centrais; todavia há mais. Há processos que nos afetam que são sui generis, que são históricos e culturais, que se relacionam com nossa identidade e que também merecem atenção. Ainda somos, (in)felizmente, uma sociedade em formação, com severas dores e tensões neste processo – algo que outras sociedades também viveram (vivem) e aprendem neles. Precisamos nos compreender melhor e aprender mais sobre/com esses processos; mais do que simplesmente transladar uma lógica de polarização linear entre classes médias X classes subalternas e as oscilações de seus (pseudo) ciclos de protagonismo. As lacunas de compreensão são mais profundas: compreender o Brasil não é para principiantes nem amadores.

Salete Cavalcanti: Com o avanço dos estudos sociológicos, é notável como os camponeses foram deslocados do campo às cidades para se integrarem às indústrias têxteis e a outros tipos de exploração que respondem à expansão dos conglomerados urbanos e áreas de fronteiras. Nos estudos sobre o mundo rural esse tema da migração surge continuamente. No Brasil, ao final da década de 1970 e início dos anos 1980, houve crescimento dos estudos sobre os movimentos sociais no campo e desigualdades das relações nos ambientes de trabalho, conforme as dimensões de raça, gênero e classe. Pesquisas significativas foram realizadas sobre os movimentos sociais, segundo suas diferentes demandas e aclararam as carências e reclamações quanto às formas de exclusão, lutas por reconhecimento, direitos, formas de resistência e memória camponesa. Isso em momentos prévios à redemocratização do país e nos anos seguintes. Nessas investigações, demonstram-se os confrontos entre os que lutam por trabalho digno e terra e os proprietários de terra, os dos donos do poder. A lembrar, por exemplo, os confrontos entre a UDR (União Democrática Ruralista) e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra). Os estudos revelam também as lutas dos atingidos por barragens e outras que se opuseram aos cercamentos dos rios em favor da produção de energia elétrica e irrigação. Entre as mais recentes, aquelas contra os usos dos solos e favorecimento da mineração, em desfavor dos agricultores, indígenas e ribeirinhos, esses frequentemente ameaçados pelos chamados grandes projetos de desenvolvimento e as escolhas políticas e econômicas em favor da soja, do gado e contra o meio ambiente. Parte dessa história foi analisada por um grande grupo de pesquisadores/as da coleção sobre A História Social do Campesinato (UNESP) e continuam na literatura atual. Principalmente, a se registrar a força do Movimento das Margaridas e as lutas pela Agroecologia.

4. Como você vê a relação das classes médias com as políticas públicas (educação, saúde, habitação, por exemplo)?

Antonio Brasil Jr.: É difícil avaliar essa pergunta na condição de não-especialista sobre o assunto, mas, apenas para resumir com base nas respostas que dei acima, parece-me que a relação das classes médias com as políticas públicas caminha pari passu com as suas formas de autocompreensão como espaço do privilégio social. As classes médias se beneficiaram historicamente de muitas políticas públicas de financiamento habitacional (como o extinto BNH), de expansão educacional (especialmente no ensino superior) e mesmo de saúde, seja diretamente (como no financiamento via SUS de procedimentos de alta complexidade), seja indiretamente (como na dedução fiscal de gastos de saúde na medicina privada). Portanto, não vejo que há oposição sistemática destes setores à expansão dos serviços públicos nas áreas de saúde e educação – basta lembrarmos das bandeiras que mesmo os setores à direita empunhavam em 2013 pedindo mais verbas para saúde e educação –, desde que essa expansão esteja calibrada para satisfazer as necessidades percebidas como urgentes por esses setores, mesmo que ao arrepio das necessidades dos setores majoritários da população.

Antonio Sérgio Guimarães: As políticas públicas sociais, bem como o campo da cultura, continuam a ser o setor preferencial de atuação dos intelectuais públicos e dos ativistas sociais. De certo modo, o papel mediador e negociador dos interesses de classes e dos interesses de grupos políticos diversos, mobilizados em torno de diferenças étnicas, raciais, de gênero, sexualidade etc. cabe a essa camada de intelectuais, que pode atuar, seja do modo tradicional – nas universidades, academias, grandes jornais e organizações não-governamentais –, seja por meio de mídias sociais digitais. As políticas sociais são, por assim dizer, meios de construir compromissos políticos mais abrangentes e duradouros entre as classes dominantes e os setores populares. São os intelectuais públicos oriundos das camadas médias que têm se mostrado capazes de forjar e manter os compromissos sociais mais duradouros.

Fernando Tavares Júnior: Classes médias dependem de políticas públicas para sua reprodução e sabem jogar este jogo muito melhor do que as classes populares. Neste aspecto, vale a pena diferenciar classes e estratos, bem como classes dominantes e elites. Estar num estrato econômico ou de consumo mais elevado não significa linearmente ingressar nas classes médias altas. Classes médias tem outros capitais e instrumentos de ação social para além do dinheiro, como acesso à informação, redes de relações sociais, formação cultural etc. Isso franqueia um arsenal estruturalmente mais competente para subsidiar as tomadas de decisões ao longo da vida, que tornam potencialmente muito mais promissoras as trajetórias sociais decorrentes, especialmente em relação a aproveitar as oportunidades que se abrem tanto na sociedade, quanto no mercado e também pelo Estado: ensino superior, linhas especiais de financiamento, concursos, licitações e editais etc. Complementarmente, estruturam-se classes que dominam, mas isso não significa que são “elites”. O conceito de elite envolve também liderança, capacidade intelectual e competência, protagonismo social e propositivo na direção de novos caminhos para a sociedade (não só para si). Sempre tivemos classes dominantes. Majoritariamente, ao longo da história, tenderam a ser muito tradicionais, conservadoras, reacionárias e também patrimonialistas: de Faoro a DaMatta, passando por outros tantos. Infelizmente, foram raros os períodos em que “elites” stricto sensu conseguiram ocupar e exercer seu papel. Portanto, a relação das classes médias com as políticas públicas é exponencialmente diversa e dialética, marcado pelas pluralidades de um lado e de outro. No entanto, como dialética, é também mutuamente dependente e estruturalmente articulada. Não dá para pensar as classes médias sem as políticas públicas, desde o ensino superior (seja público, subsidiado…) ao IRPF e suas faixas, passando pela casa própria e as taxas de financiamento (SELIC, CDI…); bem como não dá para pensar as políticas públicas sem considerar as classes médias: emprego, consumo, aposentadoria etc.

Salete Cavalcanti: Os estudos das classes médias são essenciais para entender o vasto campo de forças que garante o desenvolvimento sustentável, especialmente nas regiões semiáridas do Nordeste brasileiro. Embora não sejam o foco do nosso olhar, as classes médias emergem nas pesquisas realizadas por nossos grupos de trabalho na qualidade de agricultores familiares, profissionais e técnicos que atuam em empresas estatais de ciência e tecnologia, enquanto parte do poder do Estado e da força das organizações não governamentais envolvidas na realização das ações do Estado e das políticas públicas que visam contribuir para a expansão das atividades agrícolas, através da instalação e acompanhamento das agroindústrias, das atividades extrativistas e dos novos usos do solo. É notável a relação entre esses profissionais, a dinâmica territorial nessas zonas e o desenvolvimento local. É necessário um olhar atento à dinâmica de concentração econômica do capital financeiro, da expansão territorial da agroindústria frutícola e açucareira. Ao mesmo tempo, deve-se investigar, atentamente, a existência e persistência de práticas sociais, de experiências comunitárias e tecnológicas de fortalecimento da agricultura familiar através da interdisciplinaridade e da transversalidade dos debates. As políticas públicas não deveriam descuidar da complexidade da agricultura familiar e dos novos posicionamentos dos movimentos das mulheres e suas formas de resistência. É necessário olhar para o papel do Estado e do aparelhamento científico e técnico para a compreensão das práticas de provisão de alimentos saudáveis, bem como aos novos papéis das mulheres agricultoras na democratização do acesso e uso dos bens comuns.


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