Ocupação BVPS Mulheres 2024 | Fios que tecem memórias femininas, por Coletivo Bordazul (coordenação Gianinna Bernardes)

Neste post, divulgamos o trabalho das bordadeiras do coletivo Bordazul, coordenado por Gianinna Bernardes. Este coletivo é formado por mulheres que residem em bairros do litoral norte de Maceió (AL) e que procuram expressar, a partir de seus bordados, as memórias, as histórias de vida e a cultura local.

Na semana do 8M, a BVPS promove pelo segundo ano consecutivo a Ocupação Mulheres, reunindo ensaios, relatos, cartas, conto, entrevista e resenhas que abordam temas, reflexões e dados das mais diferentes ordens sobre mulheres.

Continue acompanhando as publicações da Ocupação BVPS Mulheres 2024. Para saber mais sobre a iniciativa deste ano, dedicada às mulheres e meninas palestinas, clique aqui.


Bordazul: fios que tecem memórias femininas

Por Coletivo Bordazul, coordenação Gianinna Bernardes

Bordadeiras com o figurino bordado do Baianá

Somos um coletivo de bordadeiras formado por mulheres que residem na Garça Torta, Riacho Doce, Boca do Rio e Ipioca, bairros do litoral norte de Maceió, Alagoas.

Tivemos como embrião oficinas de bordado promovidas pelo SESC-AL, no ano de 2013.

Através do fazer artesanal do bordado livre, expressamos memórias, histórias de vida e a cultura local.

Desde o começo do Bordazul, somos nós que desenhamos o que bordamos. Não trabalhamos com riscos “prontos”. A autoria, a criação e o jeito de cada uma são incentivadas. Continuamente aprendemos a valorizar os nossos traços, a nossa capacidade de expressão, a trazer para os desenhos e os bordados as nossas experiências, os elementos que fazem parte da paisagem do nosso lugar, os ofícios, as manifestações, a natureza etc.

Alguns trabalhos das bordadeiras – bonecas e sereias

Antes do bordado quase todas tínhamos atividades centradas em ser donas de casa, uma ou outra tinha um trabalho fora, como diarista, boleira ou cuidadora. A vida era cuidar da casa, dos netos, do marido.

Nós mesmas não dávamos muito valor para as nossas histórias, ou histórias de outras pessoas do nosso lugar. Mas a gente começou a puxar o fio da meada e a descobrir muitas histórias interessantes, verdadeiros tesouros!

Isso foi o que mais nos encantou quando a gente começou. Parecia um novelo de linha, quando a gente começou a puxar ele foi se desenrolando, desenrolando… E uma memória foi puxando outra, ou se ligando com outra. Histórias que estavam escondidas, ou eram invisíveis, foram trazidas para os nossos bastidores de bordado.     

Ponto a ponto, através de coloridos bordados, retratamos o território do Riacho Doce, com seu rico patrimônio cultural, que desejamos ver reconhecido e valorizado.

Temos no nosso grupo uma Mestra do folguedo Baiana e, resgatando memórias, trabalhamos pela revitalização do folguedo. As bordadeiras participam cantando e dançando, com um figurino todo bordado.

Ao longo do nosso percurso, realizamos exposições, oficinas, intercâmbios culturais, apresentações artísticas, participação em eventos, feiras, bem como produção de peças que comercializamos, gerando renda.

Bordamos almofadas, bolsas, colchas, bonecas em forma de sereias e sereios, peixes, marcadores de páginas, painéis, sempre com as marcas da nossa identidade cultural.

Sereio e peixinhos, duas marcas do trabalho das bordadeiras de Riacho Doce
Almofada de peixinho
Sereio

A renda gerada pelos bordados amplia a autonomia financeira, contribui para o sustento familiar e para a manutenção da sede em que nos reunimos para trabalhar, no bairro do Riacho Doce.

A gente se alegra muito em saber que estamos sendo reconhecidas como “as bordadeiras do Riacho Doce”, e em ver nossos bordados ganhando o mundo. Nossas vidas têm mudado e melhorado muito com o bordado!

O trabalho como um todo contribui para o bem-estar, o desenvolvimento pessoal e da autoconfiança, a qualidade de vida, fortalece os laços comunitários e o senso de pertencimento.

Para finalizar, não podemos deixar de compartilhar nossa alegria em termos conseguido alugar uma casa no Riacho Doce. É incrível e faz muita diferença ter um espaço pra gente se reunir, trabalhar, promover oficinas, receber pessoas, contar nossas histórias, vender nossos bordados.

Esperamos visitas na nossa casa de portas e janelas azuis abertas!

@bordazul Rua Santa Joana, 63 – Riacho Doce – Maceió, Alagoas                       

A imagem que abre o post é da artista plástica Lena Bergstein.


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