
O Blog da BVPS publica hoje o décimo primeiro post do simpósio internacional Mundo Social e Pandemia, uma parceria com a revista Sociologia & Antropologia e a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS). A organização é de Andre Bittencourt (UFRJ e editor do Blog da BVPS) e Maurício Hoelz (UFRRJ e editor de S&A).
No simpósio, sociólogas e sociólogos do Brasil e do exterior responderam a um questionário com 4 perguntas, elaborado com a expectativa de indagar as diferentes dimensões sociais da pandemia e os desafios que ela representa para a sociologia. Mundo Social e Pandemia sai às terças e quintas no Blog da BVPS, sempre com as respostas de 5 colegas. Para ver os outros posts da série, basta clicar aqui. As versões originais das contribuições enviadas em inglês e francês são disponibilizadas nesta página, que será sempre atualizada. Para acompanhar as atualizações do Blog, siga nossa página no Facebook.
Hoje teremos como convidados/as:
Martina Löw, professora do Departamento de Sociologia da Technische Universität Berlin, Alemanha. Autora, entre outros, de The Sociology of Space: Materiality, Social Structures, and Action e Vom Raum aus die Stadt denken: Grundlagen einer raumtheoretischen Stadtsoziologie.
Habibul Haque Khondker, professor do Departamento de Ciências Sociais da Zayed University, Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos. Autor, entre outros, de 21st Century Globalization: Perspectives from the Gulf (Org.) e Globalization: East/West.
Anderson Trevisan, professor do Departamento de Ciências Sociais na Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Autor, entre outros, de A redescoberta de Debret no Brasil modernista e “O cinema educativo de Humberto Mauro: análise do filme Cantos de Trabalho”.
Cristiano Monteiro, professor do Departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense (UFF). Autor, entre outros, de “A onda rosa e o neoliberalismo resiliente” e “Political dynamics and liberalization in the Brazilian air transport industry: 1990-2002”.
Adalberto Cardoso, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ). Autor, entre outros, de À beira do abismo. Uma sociologia política do bolsonarismo e Classes médias e política no Brasil: 1922-2016.
Boa leitura!
1. Sociólogos/as e cientistas sociais, em geral, estão se mostrando mobilizados/as para produzir e compartilhar interpretações sobre os efeitos sociais e políticos da pandemia. A teoria sociológica está equipada para enfrentar o desafio de compreender/explicar o fenômeno?
Martina Löw: Como sociólogas e sociólogos precisamos perguntar o que a pandemia de Covid-19 significa para a sociedade como um todo, agora e no futuro. A situação atual está obviamente ligada a questões de espaço e refiguração. Para superar os limites (linguísticos e) nacionais do discurso público atualmente em vigor, a sociologia está bem preparada para apresentar teoria relativa ao espacial para descrever e explicar o fenômeno.
A dimensão social da pandemia não é apenas fundamentalmente espacial em sua natureza. Como uma lente de aumento, a crise também revela uma tensão típica das sociedades da modernidade tardia, uma tensão entre duas lógicas espaciais – nesse caso aquela entre espalhamento global e fechamento nacional. Levando-a ao extremo, as dinâmicas básicas da refiguração dos espaços como os compreendemos estão visíveis a olho nu. Na nossa perspectiva, a refiguração do social resulta precisamente da tensão entre duas lógicas espaciais. Por um lado, temos o fechamento territorial. Países, áreas residenciais e casas são tratadas como “contêineres” de vírus ou que precisam ser isolados dele. Por outro lado, vemos o espalhamento incontido, global dos corpos infectados com o vírus, a densificação das redes digitais e uma abertura massiva de redes de comunicação desempenhando novas funções na crise. A mesma tensão entre duas lógicas espaciais básicas se expressa na figuração do Estado territorial centralizado em oposição à globalização transnacional, e nas fortes hierarquias verticais e análises lógico-conceituais versus a formação de redes horizontais ou “rizomas” e metáforas ontológicas.
Habibul Khondker: Entre as ciências sociais, pode ser que a sociologia esteja singularmente preparada para lidar com a crise da Covid-19 por três motivos. O primeiro é que a sociologia compreende uma perspectiva ampla, um olhar holístico para a sociedade que outras disciplinas especializadas podem às vezes deixar de lado. A crise da Covid-19 é uma crise de saúde pública. Em saúde pública, a saúde é claramente um assunto científico, um tema com o qual os cientistas lidam usando dados, evidências e experimentação. O “público” em saúde pública está nos domínios da sociologia. Uma perspectiva mais ampla oferecida pela sociologia está mais apta a capturar o aspecto público da resposta à Covid-19.
Em segundo lugar, a sociologia tem uma subárea, nomeadamente a sociologia dos desastres, que se dedica a lidar com o exame de desastres e crises. O conhecimento acumulado nessa área, tradicionalmente dedicada ao exame de desastres de um só evento, pode ser usado na exploração de crises multinível como a da Covid-19. Mesmo a subárea da sociologia médica pode ser utilizada nesse sentido. Em terceiro lugar, teóricos sociais como Ulrich Beck dedicaram atenção, décadas atrás, à crise como aspecto das sociedades modernas ou da modernidade avançada. Tal enquadramento teórico pode ser utilizado na compreensão da Covid-19, especialmente de suas consequências de mais longo prazo.
Anderson Trevisan: Como sabemos, quando as ciências sociais se constituíram, não foi por acaso: pensadores da época estavam inquietos com a crise da modernidade e suas consequências: aumento exponencial da população urbana, desemprego, miséria, onda de suicídios etc. Para tanto, criaram teorias que pudessem ajudar na compreensão dos fenômenos típicos da época, para os quais as ciências existentes não tinham ferramentas adequadas. Em que pese os diferentes paradigmas constituídos nessa origem, todos tinham em comum a confiança de que seria possível se pensar problemas sociais a partir de bases teóricas, seja para explicá-los, compreendê-los ou transformá-los. Períodos de crise são especialmente férteis para as ciências sociais, que se veem obrigadas a produzir reflexões imediatas, quase sempre a partir de uma autorreflexão. A profusão de ensaios, artigos e pesquisas recentes sobre a pandemia é uma expressão do espírito das ciências sociais: o interesse em explicar teoricamente o mundo, transformando problemas sociais em questões sociológicas, podendo indicar caminhos e proposições para possíveis soluções. Acredito que essa capacidade de se reinventar a cada crise torna a teoria sociológica apta para enfrentar mais esse desafio. Sobretudo porque, em sua atualização, as ciências sociais começaram a desenvolver um olhar menos macro, de modo a perceber que os problemas e contradições sociais afetam de maneira diferente homens e mulheres, jovens e idosos, ricos e pobres, negros e brancos etc. Como dizem, o vírus não vê classe, cor, gênero, sexualidade ou idade, mas a sociedade vê, e daí a questão toma contornos que indicam os limites de uma explicação meramente biológica e apontam para contradições que apenas um olhar mais atento pode perceber. Com isso vem uma grande responsabilidade. Boaventura de Sousa Santos, em texto recente, aponta que os cientistas sociais não podem, sobretudo agora, escrever sobre o mundo, mas com o mundo, não pretendendo ser vanguarda, mas retaguarda, deixando de lado as disputas teóricas ideológicas para dar atenção às necessidades e inquietações dos cidadãos comuns, que precisam de quem os indique caminhos e possibilidades, algo que muitas vezes têm recebido de líderes religiosos radicais. Não é fácil essa tarefa, mas é muito necessária. Mas para isso, é preciso que a teoria busque trabalhar com os problemas do dia a dia, permitindo-se levantar questões e hipóteses que serão atualizadas ou mesmo derrubadas a cada nova informação. Para isso, precisaremos de humildade e, como já alertava Wright Mills, de boas doses de imaginação sociológica.
Cristiano Monteiro: As crises sempre fizeram despertar a imaginação sociológica e, com elas, a questão sociológica fundamental da mudança social. Entre ações e estruturas (e as alegadas “sínteses”), o cardápio de teorias disponíveis é variado e não vão faltar opções para os praticantes do ofício que certamente, ou inevitavelmente, vão se dedicar a interpretar os efeitos sociais e políticos da pandemia durante um bom tempo a partir de agora. Dentre as opções teóricas disponíveis, as teorias institucionalistas estão especialmente interessadas em processos de continuidade e mudança. Um dos conceitos centrais utilizados por estas teorias, “dependência de trajetória”, poderá inspirar muitos trabalhos sobre a pandemia e seus efeitos, avaliando a resiliência de arranjos institucionais variados, passando por políticas públicas, padrões de relacionamento entre grupos sociais e trajetórias de desenvolvimento, entre outros. Originalmente, essa abordagem foi proposta por economistas interessados no uso de tecnologias específicas: eventos fortuitos levam uma tecnologia a ser adotada e, à medida que os agentes passam a usá-la, há “retornos crescentes” no uso dessa tecnologia que aumentam gradativamente o custo para adotar uma tecnologia alternativa, mesmo que esta seja mais eficiente, até que ocorre o “aprisionamento”, estabelecendo a “dependência de trajetória”. As abordagens sociológicas, por sua vez, preocupam-se menos com a questão da eficiência e mais com a dimensão do poder, ao mesmo tempo em que tendem a focar mais os arranjos institucionais e menos a forma como agentes atomizados utilizam tecnologias ou recursos específicos. Assim, os “retornos crescentes” envolvem acúmulo de poder por parte de grupos diversos e o “aprisionamento” envolve a cristalização, por meio de regras formais e informais, de relações de dominação e recursos variados de poder. De qualquer forma, para ambas as versões da abordagem, a mudança ocorre apenas diante de um choque exógeno, que constitui uma “conjuntura crítica”, a partir da qual a trajetória pode ser alterada.
Adalberto Cardoso: Sim. Temos teorias em várias de nossas disciplinas capazes de dar conta dos efeitos multidimensionais da pandemia. As teorias das desigualdades conseguem explicar porque o impacto da Covid-19 é diverso segundo as classes sociais e os estratos de renda, as regiões do país e do globo. As teorias sobre o mundo do trabalho explicam os efeitos do isolamento sobre o emprego, a renda, a ação coletiva de diferentes estratos dos trabalhadores ocupados. As teorias sobre a sociedade de risco há muito chamam atenção para o caráter sistêmico da destruição das condições de vida no planeta. A demografia está totalmente equipada para explicar o impacto da pandemia sobre as migrações internacionais, as curvas de crescimento demográfico, as projeções sobre envelhecimento numa situação em que a doença é mais fatal para grupos etários mais velhos. A história busca no passado experiências semelhantes (como a gripe espanhola no início do século XX) para tentar encontrar padrões de resposta social dos diferentes países, alternativas de cuidado, efeitos sobre as populações depois do controle das doenças, papel do Estado e das famílias e assim por diante. Como a pandemia afeta cada momento da vida de todos, em suas múltiplas dimensões, todas as ciências sociais (e também as da vida) têm seus pressupostos mobilizados e postos em xeque neste momento.
2. Como a sua área de pesquisa especializada pode contribuir para a reflexão sobre diferentes dimensões desse fenômeno?
Martina Löw: Minha área de pesquisa é a sociologia do espaço. A sociologia do espaço pode contribuir para a pesquisa da pandemia pela análise das suas lógicas espaciais implícitas. Espaços territoriais seguem lógicas de posicionamento e arranjo com fronteiras nitidamente definidas (externamente) e restrições à diversidade (internamente). Via de regra, elas são percebidas como algo estático. Em contraste, espaços em rede seguem uma lógica de criação de relações na heterogeneidade. Em espaços em rede, elementos distantes são colocados em relação, e sua característica básica se dá pelas diferenças entre os seus elementos.
A tensão entre lógicas territoriais e de rede, entre hierarquia e heterarquia, entre limitação e delimitação e entre homogeneidade e heterogeneidade se faz particularmente aguda na crise da Covid-19. Em primeiro lugar, estamos lidando com uma pandemia sem limites espaciais. Por outro lado, o vírus oferece um risco letal, fatal para aqueles que podem morrer uma morte terrível por sufocamento.
O vírus se tornou um risco global. Viajando pelo mundo com Botas de Sete Léguas, como o Pequeno Polegar, ele se espalha por meio de turistas, pelos que viajam a negócios e por outras formas e sistemas de circulação, se condensando em locais onde as pessoas se divertem e interagem: em restaurantes finos e mercados em Wuhan, resorts de esqui nos Alpes, ou em “corona parties” celebradas em boates techno urbanas. Nesse contexto, é notável que essa expansão global não tenha sido enfrentada com uma resposta global. Ao invés disso, decisões unilaterais e solitárias de fechamento de fronteiras foram tomadas. Fronteiras que há décadas não eram controladas ou fortificadas foram fechadas sem aviso prévio ou consultas entre Estados, como ocorreu por exemplo na França e Alemanha. E não apenas territórios nacionais foram fechados como cidadão nacionais expatriados foram rapidamente “trazidos de volta” em ações de “repatriação” sem precedentes.
Habibul Khondker: Minha atual área de pesquisa é a da globalização e estudos globais. A Covid-19 produz uma crise claramente global que demanda uma abordagem igualmente global para a sua compreensão, e sua solução provavelmente virá de pesquisas e compartilhamento de informações baseados em cooperação e acordos dessa natureza. Aqui meu conhecimento dos processos globais poderá ser útil na compreensão do espalhamento e das várias consequências da crise da Covid-19. Anteriormente, pesquisei na área da sociologia dos desastres. Meu interesse de pesquisa, a fome, pode ser vista como uma crise prolongada com estágios separados. As pandemias podem ser abordadas de uma perspectiva da sociologia dos desastres. Muitos conceitos dessa área podem ser usados no estudo dessa pandemia. Também tenho um interesse continuado em sociologia comparada. Atualmente estou envolvido num estudo comparativo das respostas à crise da Covid-19 em diversos países asiáticos.
Anderson Trevisan: Meu trabalho consiste em investigar a relação entre a cultura e a educação, tendo a arte e o cinema como materiais de pesquisa privilegiados. Enquanto ferramenta metodológica, é na sociologia da arte e do cinema que busco meu referencial (especialmente em Pierre Francastel e Pierre Sorlin), o que significa procurar, a partir dos filmes, elementos que permitam realizar uma discussão sobre problemas sociais. Existe uma quantidade gigante de filmes, tanto de ficção quanto documentários, que tematizam desastres, distopias, guerras, epidemias etc. Tais obras se tornam um laboratório fértil para se discutir a realidade, especialmente quando se leva isso para a sala de aula, algo que faço com frequência. Da mesma forma que se proliferam os ensaios teóricos sobre essa crise, há uma onda de material audiovisual sendo produzido, algo que a sociologia do cinema não poderia ignorar, sobretudo quando aplicada à educação. Os filmes são um caminho muito fértil de problematização da vida social, e isso é especialmente válido quando a pesquisa está relacionada com as atividades de ensino, que é o meu caso, que trabalho com a formação de professores.
Cristiano Monteiro: Uma crise como a da pandemia da Covid-19 aparece como potencial choque para muitos processos de dependência de trajetória e, a partir de agora, muitos estudos que se orientam por esse arsenal teórico deverão se guiar pela hipótese de que esta é uma conjuntura crítica, avaliando as mudanças que poderão surgir a partir dela. Dentro do relativamente amplo e diversificado campo da sociologia econômica, seus praticantes inclinados à perspectiva da economia política estão entre os que lançam mão das teorias institucionalistas, inclusive do conceito de dependência de trajetória. Análises sobre processos macro-históricos, como os modelos de desenvolvimento e as “variedades de capitalismo”, com suas implicações para setores econômicos, mercados específicos (inclusive o mercado de trabalho) e políticas públicas fazem parte dos objetos de pesquisa contemplados. Uma síntese dos resultados alcançados está na constatação de que a globalização, somada a escolhas feitas por atores políticos relevantes, levou à constituição de uma trajetória crescentemente orientada para um modelo econômico mais liberal, com fortalecimento dos agentes financeiros e grandes corporações, enfraquecimento do poder de barganha dos trabalhadores e, do ponto de vista da solidariedade social, aumento da desigualdade. Os países em desenvolvimento, a América Latina especialmente, têm acompanhado esse movimento, com nuances locais: um ciclo mais ou menos amplo de adesão à agenda de liberalização na década de 1990, “chacoalhado” (mas não necessariamente abandonado) na década de 2000 e revigorado na década atual. Todas essas tendências mais macro assumem feições particulares conforme a região, o país, a organização setorial ou, de baixo para cima, conforme a capacidade de mobilização e enfrentamento dos atores locais, o que justifica a ideia de modelos de desenvolvimento e “variedades de capitalismo”, sempre no plural. Os estudos em curso sobre cada um desses recortes levarão em consideração o impacto da pandemia ou, a partir de agora, abre-se uma agenda de pesquisa nova sobre as reconfigurações dessas diferentes dimensões tendo a pandemia como ponto de partida.
Adalberto Cardoso: A sociologia do trabalho vive um dilema neste momento. Estamos diante de um apagão estatístico que nos impede de medir os reais impactos da pandemia nos indicadores básicos que alimentam nossas pesquisas. Não há pesquisas domiciliares em andamento, o governo federal acabou com o CAGED, que fornecia dados mensais sobre a dinâmica do mercado formal de trabalho, o DIEESE está com sua capacidade de acompanhamento das greves e dos sindicatos fortemente comprometida etc. Resta-nos, dentre outras coisas, o movimento processual na Justiça do Trabalho e pesquisas qualitativas realizadas por grupos de pesquisa em todo o país. Isso nos permite, por exemplo, acompanhar o modo como a Justiça do Trabalho, o MPT e o TST se vêm posicionando sobre o trabalho em plataformas digitais (Rappi, Ifood, Uber etc.), que no mundo todo tem sido objeto de grandes disputas judiciais, decisivas para estabelecer os direitos desses trabalhadores. Isso não é pouco, muito do que ocorre no mundo do trabalho passa pelo sistema judiciário. Mas não é suficiente. Não sabemos e não saberemos o impacto no desemprego, na renda, na rotatividade de mão de obra, na informalidade etc. O Estado planeja (quando o faz) no escuro, e nós não temos como apresentar diagnósticos dos processos em curso.
3. A pandemia estaria provocando mudanças sociais, políticas e/ou culturais profundas? Ou acelerando tendências já em curso? Se sim, é possível vislumbrar os contornos das sociedades pós-Pandemia?
Martina Löw: A epidemia da Covid-19 não é um mero produto da primeira modernidade. Ela é também uma consequência da segunda modernidade, seu alto nível de digitalização, turismo em massa pelo mundo e de uma economia cujas redes são construídas principalmente por cadeias de suprimentos globais. A Covid-19 é o resultado de mudanças, não o seu início.
Minha expectativa é que as sociedades pós-pandêmicas fiquem hiper-comprimidas em termos de espaço, enquanto o mundo digital compensará parcialmente a falta de encontros públicos em que grupos interagem, se escuta música e atividades esportivas são exercidas. O estímulo à mediação digital que aparece atualmente em muitos setores é ambíguo. Suas implicações para políticas governamentais de informação ainda serão analisadas. Enquanto nos beneficiamos de infraestrutura (subsidiada pelos Estados) ao trabalharmos de casa, gigantes como a DHL e a Amazon também o fazem. Esse é um fato que projeta mais que uma mera sombra sobre a refiguração atual dos espaços. Além disso, o imenso e amplamente compartilhado conhecimento (científico) sobre o vírus provavelmente modificará nossa compreensão social da proximidade física para sempre, com a expectativa de transformações em todas as escalas e níveis do mundo social, incluindo uma percepção aumentada da respiração e tosse das pessoas, a administração de comércios e eventos públicos no interior das cidades e a continuidade da União Europeia, do Euro e da “ordem mundial” global como a conhecemos.
A vulnerabilidade e o medo da morte, o isolamento e a quarentena são experiências de crise genuínas – a doença e a morte representam adversidades individuais e coletivas sérias. Mas transformações sociais ameaçadoras são parte vital da experiência de crise. Podemos considerar que a ordem emergencial será apenas de curto prazo, e não permanente. A escalada da crise da Covid-19 tornou as dinâmicas resultantes do crescimento de tensões espaciais absolutamente nítidas. E essa tensão definitivamente permanecerá sendo uma questão porque não desaparecerá quando a pandemia for contida. A Covid-19 apenas a trouxe à cena.
Habibul Khondker: Esta pandemia será um divisor de águas. Em um nível, ela está criando novas situações e inaugurando novas tendências e práticas; em outro, está exacerbando problemas econômicos e sociais já existentes. A pandemia demanda um novo contrato social ao revelar fissuras profundas na sociedade tanto em termos de classe quanto étnicos. Nos EUA (especialmente em Nova York e outras grandes cidades), um número desproporcionalmente alto de vítimas pertence às comunidades latinas e afro-americanas. Essas comunidades em situação de desvantagem econômica compõem também o maior número dos trabalhadores da linha de frente da crise – motoristas de ônibus, de transportadoras, policiais e trabalhadores da saúde que sofreram as consequências evidentes nas taxas de mortalidade. Os grupos em desvantagem econômica também não tiveram cobertura de planos de saúde, e suas condições econômicas foram obstáculos ao acesso a boa nutrição e estilos de vida saudáveis. Enquanto por um lado um novo contrato social entre governantes e governados é necessário, por outro uma definição nova e significativa de uma boa sociedade baseada na ideia de justiça social é necessária. A desigualdade extrema é um impedimento à criação de uma sociedade justa e estável.
Anderson Trevisan: Essa não é uma pergunta de resposta fácil, mas existe algum consenso entre os ensaios que tenho lido que apontam para certa inocência ao se pensar que a pandemia é uma grande novidade, como um meteoro que nos atingiu. Ainda que a pandemia seja causada por um vírus, não encontraremos nas ciências naturais uma resposta para suas causas ou consequências mais gerais, mas nas ciências sociais, pois foram ações humanas, ligadas ao avanço do capitalismo e ao consumo desenfreado, que construíram o cenário para que essa pandemia se instalasse. Quer chamemos de hipermodernidade, pós-modernidade, modernidade líquida, hipercapitalismo, etc., a pandemia é um fenômeno de nossa época, é global e exige respostas globais. Não há, entre autoras eautores, respostas homogêneas quanto à sociedade pós-pandemia. Naomi Klein afirma que, superada a pandemia, sob a justificativa de recuperar a economia mundial, poderiam ser colocadas em prática políticas neoliberais que afetariam diretamente os menos favorecidos, com a diminuição de direitos trabalhistas e programas sociais e privatizações de toda ordem. Além disso, sob a alegação da crise, protocolos ambientais poderiam ser desrespeitados por países como a China ou os Estados Unidos. A autora chama isso de “doutrina do choque’: em épocas de grandes desastres, guerras ou pandemias como essa, os grupos de elite exploram a confusão das pessoas e passam a difundir os aspectos positivos do que seria uma radicalização do neoliberalismo, atacando inclusive a democracia. Por outro lado, Klein indica que épocas de grande crise podem oferecer a oportunidade para um “salto evolutivo”, com a criação de políticas sociais até então deixadas de lado, como a ampliação da saúde pública para todos, por exemplo. Boaventura de Sousa Santos faz uma reflexão parecida, ao dizer que, embora a pandemia atinja de forma desigual as pessoas, ela constrói uma espécie de “consciência de comunhão planetária” e que, mesmo com o distanciamento social ou isolamento, existe uma solidariedade. (Gilles Lipovetsky, mais cético, afirma que o Coronavírus é um sintoma do individualismo hipermoderno, e que mesmo quando ficamos em casa, não o fazemos por solidariedade, mas por interesse pessoal na autopreservação). Essa consciência coletiva é algo raro e, se a pandemia terá efeitos coletareis negativos para a sociedade, talvez ajude a criar também uma nova consciência planetária sobre o destino humano. O fato é que, nós, cientistas sociais, somos forçados a pensar sobre os acontecimentos no calor da batalha, e esse conhecimento construído em processo certamente tem falhas, contradições, imprecisões, e precisa ser retrabalhado à luz dos novos dados e novas discussões. É muito salutar que tantos intelectuais estejam dedicando-se a pensar de forma coletiva sobre um mesmo tema. Tanto quanto os pesquisadores da saúde que fazem o mesmo para o desenvolvimento de medicamentos ou uma vacina, as ciências sociais estão cumprindo sua função em um movimento riquíssimo que, certamente, promoverá um conhecimento necessário e muito qualificado. No entanto, em que pese a capacidade de se realizar projeções ou previsões sobre o futuro do mundo, por ora, não acredito que a sociologia possa dar alguma resposta concreta. Porém, não podemos nos furtar à tarefa de seguir levantando questões.
Cristiano Monteiro: Dentre as inúmeras trajetórias em curso passíveis de interpretação pela lente da dependência de trajetória, destaco duas para as quais a pandemia pode representar uma conjuntura crítica, sugerindo uma hipótese otimista para uma e uma hipótese pessimista para outra. No primeiro caso, sobre a trajetória de liberalização da economia ou, mais genericamente, sobre o neoliberalismo, essa conjuntura crítica pode abrir espaço para uma agenda política mais sensível ao problema da desigualdade social e aberta ao maior envolvimento do Estado na atividade econômica, em detrimento da crença na lógica de mercado e na agenda neoliberal. Até então, predominou o diagnóstico de que, com a globalização, a financeirização da economia e a pressão sobre os governos nacionais por austeridade levaram a um quadro em que, com poucas exceções, perderam os trabalhadores, as comunidades e o meio ambiente. As consequências disruptivas desse modelo para o tecido social são potencializadas pela pandemia, enquanto as estratégias e instituições mais eficientes para o seu enfrentamento passam por caminhos que vão no sentido oposto ao “cada um por si” do livre mercado. Como resultado, reabriu-se o debate sobre políticas redistributivas até mesmo entre os economistas do mainstream, incluindo a defesa da renda mínima e o abandono (mesmo que temporário – até quando?) da austeridade fiscal em prol do aumento do “gasto público” como via para superar a crise, o que dá lastro à hipótese de reversão da trajetória de desenvolvimento pela via neoliberal.
No polo das más notícias, a globalização significou mudanças importantes na dinâmica do capitalismo, com o fortalecimento das grandes corporações e das instituições financeiras, ao lado da reorganização da produção e do trabalho por meio de “cadeias globais de valor” ou “redes globais de produção”, abordagens que se complementam na análise desse fenômeno. Essa reconfiguração do capitalismo instaurou uma nova divisão internacional do trabalho, em que grandes empresas passam a operar em uma lógica transnacional, explorando “vantagens comparativas institucionais” oferecidas pelos diferentes países ou territórios. Assim, constituem-se elos mais ou menos nobres nessas cadeias/redes, pressionando agentes locais (governos, comunidades e trabalhadores) a oferecer melhores condições, do ponto de vista das empresas, para integrá-las. Grosso modo, instauram-se dois tipos de estratégia de inserção: de um lado, a busca ativa por melhores posições nessa divisão internacional do trabalho, aumentando o investimento em ciência e tecnologia, criando oportunidades para absorver e produzir conhecimento e ampliar a qualificação da mão-de-obra; de outro, a “corrida ao fundo do poço”, isto é, a atração das redes de produção via redução de custos, com o rebaixamento da remuneração dos trabalhadores e da regulação ambiental e as mais variadas concessões às grandes empresas. A conjuntura crítica representada pela pandemia pode reforçar as assimetrias entre regiões/países vencedores e perdedores, aumentando a pressão sobre trabalhadores, comunidades e os recursos naturais no caso dos segundos.
Adalberto Cardoso: Os efeitos variam muito de um país a outro. Temos o caso da Hungria, que aprofunda processo já em curso de concentração de poder nas mãos do presidente, hoje com faculdades na prática ditatoriais de governar sem ter que prestar contas a nenhum outro poder ou à população. Temos os casos de França e Itália, cujos presidentes vinham em processo de perda de popularidade e conseguiram reverter essa trajetória em razão da confiança da população no modo como conduziram o combate à doença, apesar do elevadíssimo número de mortos. E temos o caso do Brasil, cujo presidente perdeu popularidade ao colocar-se contra a OMS e a ciência de um modo geral, e aprofundar seu modo de gerir o país por meio do acirramento dos conflitos, num momento em que a cooperação é absolutamente necessária para salvar vidas e construir projetos para a sociedade pós-pandemia.
Tradições culturais longevas impediram que a Covid-19 explodisse na Coréia, por exemplo, país no qual a população se habituou a sair de casa com máscaras depois de viver epidemias consecutivas. Na Suécia a estratégia de “herd immunity” só foi possível em razão da confiança da população em suas instituições e a resposta voluntária de todos às recomendações quanto ao uso de máscaras, manutenção de distância social, proteção dos idosos, trabalho em casa quando possível etc. Estão pagando um preço alto por isso, é o país com o maior número de mortes na Escandinávia. Mas foi uma escolha acatada pela população, e o país deve estar entre os primeiros a ter sua população imunizada. No Brasil, ao contrário, a tradição é de desconfiança da população em relação ao Estado, em especial a população mais pobre. A indiferença moral das elites em relação ao destino dos mais vulneráveis se traduz no baixo valor conferido à vida humana, hoje expresso na pressão de grupos empresariais e de elites políticas governantes pelo fim da quarentena. Isto é, tradições culturais podem jogar contra ou a favor da perda de vidas, e deve-se esperar mudanças comportamentais em toda parte enquanto a vacina não existir ou um remédio eficaz não for descoberto.
A falta de informações sobre o desempenho da economia, do mercado de trabalho, do isolamento social real, da evolução real da pandemia (os dados no Brasil estão claramente subestimados), dificulta a formulação de prognósticos. De imediato, os países vão precisar reconstruir suas economias e isso acontecerá de formas muito diferentes segundo os países e as regiões do planeta. Os países ricos terão margem para rever e reverter suas políticas de austeridade, em nome da reconstrução pós-guerra. Haverá cooperação entre os países europeus, e a União Europeia pode se fortalecer, se coordenar os esforços de reconstrução numa perspectiva não fiscalista, mas sim solidária com os países mais afetados. A China será parceira estratégica nesse aspecto, e pode sair dessa crise como nova potência hegemônica, competindo de igual para igual com os Estados Unidos na definição dos destinos do planeta.
Os países mais pobres e mais dependentes (como o nosso) sofrerão mais e demorarão mais a se reerguer. São grandes as chances de uma depressão econômica grave, em razão da quebra de cadeias produtivas já muito debilitadas, destruição de milhões de empregos nos serviços, muitos não recuperáveis por serem criados por micro e pequenas empresas hoje de portas fechadas, com pouca ou nenhuma poupança. Nossa dependência da boa vontade das grandes potências será enorme. A capacidade governativa de cada país também será decisiva. Liderança, capacidade de gerar confiança, cooperação, solidariedade e engajamento na população, tudo isso será decisivo no primeiro momento, e infelizmente são qualidades ausentes no atual governo brasileiro. São grandes as chances de caos social sem precedentes, com a fome voltando como flagelo das maiorias.
A consciência da fragilidade da vida na Terra pode levar à revisão de alguns dos fundamentos do capitalismo predatório que, na pandemia, mostrou seus lados perversos: a desigualdade abissal, a vulnerabilidade social e econômica de bilhões de pessoas, o individualismo regressivo fomentado pelo neoliberalismo, a substituição da solidariedade e da empatia pela competição e o conflito, a destruição da natureza. Há muitas iniciativas interessantes no horizonte, como as propostas voltadas para a redução da velocidade da modernidade, a revisão da obsessão pelo crescimento econômico a qualquer custo, a valorização de energias limpas, a construção de fundos de solidariedade para os países mais pobres, o virtual consenso em torno da ideia de uma renda mínima para todos fruto dos riscos de novas pandemias no futuro, a taxação da especulação financeira e outros.
No momento o futuro é nebuloso, e essas iniciativas precisarão competir com mais do mesmo, isto é, o capitalismo não se voltará sobre si mesmo para se reinventar como sistema que não se baseie na exploração e na predação de pessoas e recursos naturais. No afã da reconstrução os países precisarão retomar os investimentos para voltar a crescer, agora sobre bases tecnológicas poupadoras de mão de obra, portanto geradoras de menos empregos. Há uma luta ideológica e prática à frente, e apenas o neoliberalismo prospera nos escombros, produtores de individualismos de todo tipo (salve-se quem puder). Outros projetos precisam negociar seus conteúdos entre os pares, criar solidariedade, ação coletiva, cooperação. Precisam de mais Estado. Dependeremos como nunca da capacidade do Estado coordenar a ação coletiva de uma reconstrução baseada na solidariedade e, também, na compaixão.
4. Que obra(s) da sociologia e das demais ciências sociais podem nos ajudar a compreender e a conversar sobre os desafios em curso?
Martina Löw: Teoria social, teoria espacial, pesquisas sobre risco, pesquisas relativas ao corpo, teoria da globalização e pós-colonial, pesquisas sobre regulação estatal etc.
Habibul Khondker: Sociólogas e sociólogos precisam se juntar à luta argumentando que a sociologia não é mais mera espectadora da crise. A pesquisa Everything in its path (1978) de Kai Erikson, que discute os efeitos de uma enchente no interior de Nova York fornece um molde para a pesquisa sobre capital social comunitário e confiança. Sobre como a pandemia afetou a comunidade e como a sociedade pode se reconstruir com base em um novo contrato social. É importante recuperar a confiança. A confiança é um elemento-chave para a explicação das diferentes respostas e performances governamentais. O capital social, um sentimento compartilhado de pertencimento, um espírito de cooperação, interdependência e mutualismo são de grande valia e precisam ser incluídos no diálogo e discussões. A ideia de responsabilidade pública é crucial. Em muitos países as lideranças falharam em atender ao desafio colocado pela ocasião.
A discussão de uma nova economia política deve ser construída sobre uma nova definição de desenvolvimento econômico. Aqui, os trabalhos de Amartya Sen serão de grande valor na redefinição do que se entende por desenvolvimento econômico. Trabalhos recentes de Mariana Mazzucato como Rethinking capitalism: economics and policy for sustainable and inclusive growth lançarão perspectivas úteis sobre essas conversas. Num artigo recente, ela identificou três crises: a ambiental, econômica e de saúde pública. Todas as três estão interligadas e precisam ser abordadas de maneira holística.
Anderson Trevisan: Não saberia indicar nada muito específico. No entanto, há algumas iniciativas que têm oferecido material muito interessante para o debate. Um deles é o Dossiê Coronavírus e Sociedade, da Boitempo Editorial, publicado em seu blog. Outra iniciativa são os boletins da Anpocs, Cientistas Sociais e o Coronavírus, que são atualizados semanalmente. Boaventura de Sousa Santos publicou recentemente o livro A cruel pedagogia do vírus, pela Editora Alamedina, de Coimbra. Fora isso, é sempre bom voltar aos clássicos da sociologia, como O Suicídio, publicado em 1897 por Émile Durkheim, que oferece um modelo criativo de trabalho sociológico que lida com uma questão aparentemente ligada apenas à saúde mental individual a partir de um método rigoroso de análise sociológica, partindo do modelo epidemiológico. No mínimo, ajuda a desenvolver nossa imaginação sociológica.
Cristiano Monteiro: Nos últimos anos, livros de autores importantes da sociologia econômica, como Colin Crouch (ex., The strange non-death of neoliberalism) e Wolfgang Streeck (ex., Tempo comprado: a crise adiada do capitalismo democrático), puseram ênfase no que poderíamos chamar da “vitória do neoliberalismo”, argumentando sobre a progressiva captura das políticas públicas e a própria lógica de funcionamento do Estado, cada vez mais direcionado aos interesses das grandes corporações e do capital financeiro. Assim, suas obras são fundamentais para a compreensão dos desafios relacionados à primeira hipótese, de uma possível reversão da trajetória de liberalização. Uma pista para a possibilidade de construção de vias alternativas se encontra no livro de Kathleen Thelen, Varieties of liberalization and the new politics of social solidarity, que analisa países desenvolvidos selecionados e demonstra que há diferentes combinações de ampliação da lógica do mercado com maior ou menos desigualdade, reforçando a perspectiva das dinâmicas políticas específicas de cada país, tendo como variável independente as coalizões políticas formadas pelos atores relevantes.
Já do ponto de vista da dinâmica de organização do capitalismo contemporâneo em “cadeias globais de valor” e “redes globais de produção”, os livros de Gary Gereffi (Global Value Chains and Development: Redefining the Contours of 21st Century Capitalism) e Neil Coe e Henri Yeung (Global production networks: theorizing economic development in an interconnected world) sintetizam o desenvolvimento dessas abordagens complementares ao longo das últimas décadas. Do ponto de vista da inserção da América Latina nessa dinâmica, com algum destaque para o papel do Brasil, o livro de Ben Schneider, Hierarchical Capitalism in Latin America: Business, Labor, and the Challenges of Equitable Development é uma obra que foi muito criticada pelos cientistas sociais brasileiros interessados na questão do desenvolvimento, mas que merece ser (re)lida, diante da dependência cada vez mais acentuada do país da produção de commodities e partes menos nobres de grandes cadeias globais, que encontra explicação no modelo teórico do autor.
Vale mencionar que nem todos esses trabalhos aprofundam a questão da dependência de trajetória em seus modelos. Alguns dos autores, por sinal, já escreveram criticamente sobre o conceito. Não obstante, são trabalhos que ajudam a conformar as análises com base nas quais as hipóteses são construídas, sendo uma boa porta de entrada para os interessados em discutir seus desdobramentos a partir da ótica da sociologia econômica.
Adalberto Cardoso: Sociedade de risco, de Ulrich Beck; Manipulados, de Brittany Kaiser; Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, de J. M. Keynes; A política como vocação, de Max Weber; The age of surveillance capitalism, de Shoshana Zuboff; A Grande Gripe. A história da Gripe Espanhola, a pandemia mais mortal de todos os tempos, de John M. Barry; Da guerra, de Carl von Clausewitz; A arte da guerra, de Sun Tzu; e The Marshall plan: fifty years after, de Martin Schain.
***Uma versão revisada do simpósio se encontra publicada em Sociologia & Antropologia, n. especial, v. 11/2021, no link: http://www.sociologiaeantropologia.com.br/v-11-n-especial/
A imagem que acompanha este post é:
••• Piet Mondrian, Composition n. IV, 1914. Kunstmuseum Den Haag, Holanda. [Imagem recortada]
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