Peixe vivo: ensaio visual-poético da erótica em Mario de Andrade

No post de hoje, o Blog da BVPS publica um ensaio visual feito a partir das colagens criadas por Julio Lapagesse para a Seleta erótica de Mário de Andrade, organizada por Eliane Robert Moraes. Além disso, trazemos um video editado pelo pesquisador Rennan Pimentel (PPGSA/UFRJ) em que as imagens ganham movimento e se encontram com títulos de textos icônicos de Mário.

“Carnaval Carioca”

Carnaval…
Minha frieza de paulista,
Policiamentos interiores,
Temores da exceção…
E o excesso goitacá pardo selvagem!
Cafrarias desabaladas
Ruínas de linhas puras
Um negro dois brancos três mulatos, despudores…
O animal desembesta aos botes pinotes desengonços
No heroísmo do prazer sem máscaras supremo natural.

“Cabo Machado”

Cabo Machado é cor-de-jambo,
Pequeninho que nem todo brasileiro que se preza.
Cabo Machado é moço bem bonito.
É como se a madrugada andasse na minha frente.

Macunaíma: o herói sem nenhum caráter

Mano, vamos fazer aquilo que deus consente: ajuntar pelo com pelo, deixar o pelado dentro.

Amar, verbo intransitivo

[…] não existe mais uma única pessoa inteira neste mundo e nada mais somos que discórdia e complicação.
O que chama-se vulgarmente personalidade é um complexo e não um completo.

“Frederico Paciência”

Passei noite de beira-rio. Nessa noite é que todas essas ideias da exceção, instintos espaventados, desejos curiosos, perigos desumanos que picavam com uma clareza tão dura que varriam qualquer gosto. Então eu quis morrer. Se Frederico Paciência largasse de mim… Se se aproximasse…

O turista aprendiz

Afinal, numa arraiada o botão da vitória-régia arreganha os espinhos, se fende e a flor enorme principia branquejando a calma da lagoa. Pétalas vão se libertando brancas brancas em porção, em pouco tempo matinal a flor enorme abre um mundo de pétalas pétalas brancas e odora os ares indolentes.

“Girassol da madrugada”

Tive quatro amores eternos…
O primeiro era a moça donzela,
O segundo… eclipse, boi que fala, cataclisma,
O terceiro era a rica senhora,
O quarto és tu… E eu afinal me repousei dos meus cuidados.

O turista aprendiz

No geral, as emboladas são mesmo assim. As mais das vezes não tem sentido como tipicamente o “Bambu bambu” prova […] Mas Chico Antonio ultrapassa de muito os que tenho escutado, pela força viva do que inventa e a perfeição com que embola.



Referências de Mário de Andrade

Carnaval Carioca, Clã do Jabuti (1927), Poesias completas.

Cabo Machado, Losango cáqui (1926), Poesias completas.

Girassol da madrugada, Livro azul, Poesias completas (1941).

Macunaíma: o herói sem nenhum caráter (1928).

Amar, verbo intransitivo (1927).

Frederico Paciência, Contos novos (1947).

O turista aprendiz. Ed. apurada, anotada e acrescida de documentos Telê Ancona Lopez e Tatiana L. Figueiredo. Brasília: Iphan, 2015.

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