
O Blog da BVPS publica hoje o texto “Compromisso com o público: por onde ir?”, de Caroline Tresoldi (UFRJ), que se hospeda no ensaio “O teorema de Walnice e a sua recíproca”, de Silviano Santiago.
O post dá continuidade à Hospedagem Vale quanto pesa, um experimento intelectual e estético inspirado na categoria de “hospedagem” de Silviano Santiago, voltado para as comemorações do seu segundo livro de ensaios, Vale quanto pesa, de 1982. Propomos um exercício de comentário, repetição, suplementação, hospedagem dos 18 textos nele reunidos. Autores e autoras de 40 anos ou menos comentam Vale quanto pesa em seus 40 anos ou mais.
É uma alegria proporcionar esse encontro, ainda mais porque, como espaço de formação de editores/as, autores/as e leitores/as de comunicação pública das ciências sociais, literaturas e artes, o Blog da BVPS aposta sempre na conversa entre diferentes gerações.
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Boa leitura!
Compromisso com o público: por onde ir?
Por Caroline Tresoldi (UFRJ)
Ao André Botelho, que me ensina a ler Silviano
Em 2018, a Universidade Estadual de Campinas elegeu o álbum Sobrevivendo no Inferno (1997), dos Racionais MC’s, como parte das leituras obrigatórias para seu vestibular. O álbum do grupo de rap liderado por Mano Brown foi incluído na categoria “poesia” junto aos sonetos do consagrado Luís de Camões e do livro A Teus Pés, de Ana Cristina Cesar. Na época, chamou minha atenção algumas polêmicas sobre a inclusão desse álbum na lista de leituras de um dos vestibulares mais concorridos do país, registradas em alguns jornais, em debates acadêmicos e, sobretudo, nas redes sociais. De modo geral, enquanto alguns criticaram a escolha do álbum, defendendo, no fundo, uma posição tradicional de que a literatura tem um valor estético específico, outros comemoraram a inclusão, partilhando do entendimento de que a literatura comporta uma polifonia de vozes e de gêneros textuais. Não cabe aqui aprofundar as polêmicas, mas esse caso é interessante para assinalar algumas das disputas – que não são de hoje – em torno da noção de literatura.
Tomo essas polêmicas como ponto de partida para comentar o texto de Silviano Santiago “O teorema de Walnice e sua recíproca”, oitavo capítulo de Vale quanto pesa (1982), porque acredito que há nele pistas importantes de que Silviano trabalha com uma noção ampliada de literatura, o que, em minha leitura, faz de seu programa intelectual algo pioneiro na tradição da crítica brasileira. Essa noção ampliada de literatura está presente desde a publicação de Uma literatura nos trópicos (1978) – a primeira coletânea de ensaios do crítico, na qual ele mobiliza um conjunto amplo de textos, que vai da Carta de Pero Vaz de Caminha até as produções culturais que lhe eram contemporâneas, como a poesia e a música popular dos anos 1970, passando também por alguns dos escritores mais consagrados do país (Chaguri & Tresoldi, 2020) –; e ela é reforçada nesse segundo livro de ensaios, de 1982, no qual Silviano também transita entre diferentes objetos e sujeitos literários. Na apresentação desta hospedagem de Vale quanto pesa, André Botelho e Gabriel da Silva (2023) chamaram a atenção para esse trânsito, indicando que Silviano coloca o já celebrado João Cabral de Mello Neto ao lado de um poeta ainda em ascensão como Adão Ventura. O gesto é, sem dúvida, teórico e politicamente interessado. Acrescento que Silviano não apenas adota essa noção ampliada de literatura, como também aposta na ampliação do público leitor e com ele se compromete.
Para avançar nessa chave de leitura, recupero, em primeiro lugar, a crítica de Walnice Nogueira Galvão ao romance Tereza Batista cansada de guerra (1972), de Jorge Amado, para, em seguida, comentar mais detidamente os principais argumentos de Silviano em “O teorema de Walnice e sua recíproca”, texto de 1981.
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Em “Amado: respeitoso, respeitável”, ensaio publicado em 1973 e reunido na coletânea Saco de gatos (1976), Walnice faz uma afiada crítica ao romance de Jorge Amado lançado um ano antes. A autora parte da constatação de que o escritor baiano, que vivia de seu ofício – destoando, portanto, da maioria dos escritores brasileiros que eram empregados pelo Estado – era uma das poucas vozes no meio literário que falava abertamente contra a censura e a repressão impostas pelo regime militar então em andamento. A outra voz que ela menciona é a de Érico Veríssimo, que também era um escritor profissional e denunciava os métodos utilizados para a instalação e conservação do regime autoritário. Diante da postura assumida pelos dois escritores na imprensa, Walnice se pergunta: a liberdade de expressar livremente as opiniões se relaciona com a independência econômica dos escritores? E, mais importante: o que acontece com a obra de um escritor que vive de seu ofício?
Se concentrando na figura de Jorge Amado, Walnice defende que sua ficção seria um exemplo de que “ser escritor independente parece implicar, em certas situações históricas, numa relação mais flexível para com o Estado e mais dependente para com o mercado” (Galvão, 1976: 13). Trocando em miúdos, a crítica social e política feita pelo escritor na imprensa não encontraria correspondência em sua obra literária mais recente. Acrescenta Walnice que, sendo comandado pelo gosto do mercado, escritores como Jorge Amado constroem uma obra que não pode inovar nem no plano da forma, nem dos conteúdos. Na verdade, ela precisa “patinhar no velho discurso realista tão característico dos best-sellers, onde a narrativa flui sem anzóis que enredam a atenção do leitor no próprio discurso, ou na matéria narrada que não pode ser perigosa (…). Dicção fluente e enredo com armadilhas de suspense, essa é a fórmula de sucesso” (Galvão, 1976: 14, grifo no original, negrito meu).
As provocações de Walnice sobre a obra de Jorge Amado são corajosas. Digo isso porque o escritor baiano estava no auge do sucesso de público – passando até mesmo a ter seus romances adaptados para a televisão e para o cinema – e Walnice não apenas sugere que seus romances nasceriam “velhos”, como, na sequência, utiliza adjetivos como os de “pornográfico”, “sádico”, “pedófilo”, “exibicionista” e “machista” para se referir ao escritor. Na análise de Walnice, se os romances anteriores de Jorge Amado já davam indícios de seu populismo pornográfico, em Tereza Batista cansada de guerra, romance que possui quase um terço de descrição das relações íntimas da menina prostituta Tereza com um sádico Capitão, ele alcançaria um lugar constrangedor, cruzando a linha da perversão. Esclarece a autora que esse tipo de literatura feita para agradar ao público (e vender exemplares) pode até ter um pequeno grau de crítica social, com uma ou outra personagem com vezo mais progressista, mas, feitas todas as contas, “a função crítica da literatura fica amordaçada, não pode haver proposta de superação daquilo que está errado no presente; o que haja de crítica se proíbe de ultrapassar os quadros do sistema vigente, literário ou mais” (Galvão, 1976: 14).
Daí ela argumentar que, entra ano e sai ano, os romances de Jorge Amado aumentam em tamanho de páginas, impactando o preço final e a fatia que vai para o bolso do escritor, mas os instrumentos que utiliza, como o discurso indireto livre, são cada vez mais aguçados para pior, com cada vez menor elaboração artística. Em poucas palavras, para Walnice, a fórmula pessoal de Jorge Amado apenas reforça a mitologia baiana presente em outras obras – “comida de dendê e cachaça, praias e coqueiros, candomblé e mulatas, pretos e saveiros, coronéis e prostitutas, sexo e violência” (Galvão, 1976: 16) –, sem criar nada realmente novo, que dirá algo com um sentido crítico.
Ao se debruçar sobre o ensaio de Walnice, vale dizer desde já que Silviano (1982: 71) concorda com a crítica mais geral que ela tece aos romances de Jorge Amado, especialmente quando ela aponta que o “deterioramento artístico progressivo” que percorre a vasta obra do escritor baiano tem relação com sua insistência no populismo, com o uso que faz do discurso indireto livre e com a pornografia que chega à perversão. Mas o que importa ao crítico mineiro é explorar as questões levantadas por Walnice para pensar a relação entre obra literária e público leitor e entre escritor e Estado no Brasil. É a partir disso, como procuro sustentar, que vemos emergir uma noção algo ampliada de literatura e uma discussão sobre o papel do escritor/artista em relação ao público em uma sociedade como a brasileira. Vejamos o que diz Silviano.
Na leitura do crítico, a “equação paradoxal” – expressão dele – de que Walnice se vale para afirmar que em algumas situações históricas os escritores mais independentes do Estado são os mais dependentes do mercado, não podendo ir contra o gosto do público, parte de uma concepção tradicional e elitista de arte e literatura vigente entre muitos teóricos da literatura, e presente também entre os vanguardistas radicais que, “isolados pelo sistema do mercado na sua torre de marfim, buscavam uma saída digna para a sua condição de escritores herméticos e pouco consumíveis” (Santiago, 1982: 71). Ele identifica como as bases do pensamento de Walnice os formalistas russos, a teoria da informação e as propostas teórico-críticas de Ezra Pound. Cada uma a sua maneira, essas vertentes ajudavam a forjar as primeiras críticas de peso à recém-instalada indústria cultural no país.
O ponto problemático do argumento de Walnice, para Santiago, repousa em sua afirmação de que a ficção comandada pelo gosto do mercado está proibida de inovar. Trata-se de um raciocínio, segue o crítico, que Walnice compartilha com a tradição ocidental clássica, segundo a qual inovar cria dificuldades de leitura e, por isso, destina-se a um pequeno grupo de letrados, aos que podem “tirar prazer da palavra escrita”. Pensando nesses termos, segundo Silviano,
(…) fica inevitável o estabelecimento de uma tipologia hierarquizada em que as obras de primeira grandeza são seguidas, em escala de valor decrescente, de obras subalternas em ondas sucessivas no tempo. O mais novo tem o público mais reduzido; o mais velho tem o mais amplo. O círculo da qualidade se encolhe à medida que se alarga o círculo dos leitores. Vista pela perspectiva da teoria da informação, a questão não se apresenta de forma menos pessimista: o teor informativo da obra de arte vai-se desgastando à medida que o seu consumo se torna silencioso. O sistema de resposta (isto é, da leitura) é a morte da obra de arte (Santiago, 1982: 72).
A análise de Silviano não procura advogar em favor da qualidade das obras criticadas por obedecerem às lógicas do mercado. Também não se trata de uma visão ingênua sobre a indústria cultural, que, como reconhece, criou inúmeros problemas para o campo literário e artístico em geral. Nessa discussão a partir do texto de Walnice, o que ele propõe, por um lado, é deixar um espaço crítico aberto também para os produtos culturais de massa e para outros objetos artísticos que ganhavam reputação entre o grande público (Botelho & Silva, 2023). Por outro lado, ele argumenta que essa concepção elitista de arte se soma a um pessimismo – também elitista – com o público. Como exemplo, ele cita um trocadilho de Oswald de Andrade, muito utilizado entre os vanguardistas brasileiros da primeira metade do século XX, que dizia: “a massa ainda comerá do biscoito fino que fabrico”, como se coubesse ao público leitor florescer intelectualmente ao ponto de consumir o padrão de excelência imposto pelo artista/escritor. Colocando-se contrário a essa concepção elitista de literatura (e de público), Silviano observa que ela se torna nefasta:
no momento em que a obra de arte não pode abdicar de uma (repito: uma) das suas responsabilidades para com o público: o da sua formação. Há momentos históricos – e passamos por um destes – em que ao artista cabe a função de ser o principal responsável pelo aprimoramento intelectual de um público cada vez mais amplo, de tal forma que o gradativo acesso deste à cultura não passe pela falsa democracia dos índices de ibope, pela demagogia do Estado ou pelo facilitário dos cursos mobralescos (Santiago, 1982: 73).
Com isso, Silviano confere ao artista/escritor dos anos de 1980 o papel de formação do público, ou melhor, de um novo público, distinto das classes aquilatadas que consumiam mais frequentemente a literatura. Ele se refere aos “grupos de não-privilegiados, para que cheguem ao prazer e ao saber que se instilam pelo contato com obras poéticas, no sentido amplo da palavra” (Santiago, 1982: 73). Se “toda a sociedade tem necessidade de ficção e de poesia”, como afirma Silviano, ele cobra de sua geração uma postura mais altiva na ficção e na poesia, menos tradicional e conformista, com vistas tanto a formar uma nova faixa de público quanto a explorar o potencial contestatório que as expressões estéticas podem ter.[1]
Esse ponto nos permite voltar à ficção de Jorge Amado. Acompanhando o argumento de Silviano, podemos indicar que se as obras do escritor baiano são fracas é porque ele, mesmo consciente do papel do escritor na formação do público, não contribui “positivamente” com essa formação. Sua concepção populista – alerta feito por Walnice – o leva a tratar seus leitores como ingênuos, propondo “soluções sobrenaturais, embebidas de sincretismo religioso, para conflitos sociais e concretos”. E o crítico acrescenta: “a beatificação da prostituta, assunto caro à sua pena de romancista, nada mais é do que os resquícios ‘democráticos’ de uma moral patriarcal e machista, cuja ‘pedra de toque é o sadismo'” (Santiago, 1982: 74-5). Trata-se, portanto, de um escritor que minimiza a contribuição do leitor na leitura.[2]
A cobrança de Silviano aos escritores revela, assim, um compromisso com o público, a figura privada na tríade autor-obra-público. E talvez seja por esse tipo de comprometimento que ele questione até mesmo o livro – que é a comunicação entre autor e leitor – como único suporte da literatura. Tendo em vista que, no Brasil, o livro era objeto quase restrito às elites pelo seu custo elevado em uma sociedade de renda baixa, Silviano menciona duas soluções interessantes gestadas para lidar com os impasses econômico e cultural do livro. A primeira solução, segundo ele, foi encontrada pelo Centro Popular de Cultura (CPC) no início da década de 1960, quando passou a veicular o folheto de cordel – considerado um meio mais popular – para divulgar suas ideias a um público mais amplo. Já a segunda foi esboçada no início da década de 1970, pelos chamados poetas marginais, que circularam suas poesias mimeografadas procurando atingir mais leitores. Ainda que se possa questionar o alcance e os limites das duas experimentações estéticas, o crítico as considera válidas, acenando, com isso, para outras formas de veicular a literatura. Ou seja, sua noção de literatura passa inclusive pela consideração de outros formatos de textos, que podem permitir outras formas de comunicação entre público e leitores.
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Para finalizar esse breve comentário, voltemos ao que nos chamou atenção na leitura de “O teorema de Walnice e sua recíproca”. O texto trata de muitas outras questões que não foram aqui abordadas, como, por exemplo, as relações entre escritor e Estado no Brasil, que merecem destaque pelos exemplos históricos mobilizados pelo crítico – sobretudo pelas instigantes considerações que tece sobre o modernismo brasileiro, uma de suas especialidades. Ainda assim, o que quis pontuar é que, com Silviano, temos uma nova entrada para compreender a tríade autor-obra-público. Suas notas sobre Walnice expressam alguns dos compromissos que ele assume como intelectual-crítico-ficcionista: primeiro, trabalhando com uma noção alargada de literatura e, segundo, propondo um novo olhar sobre o público. Algumas das hierarquias que modelaram a tradição cultural ocidental são desfeitas nessa aposta mais democrática sobre a literatura e seus leitores, afastando-se da noção mais tradicional de literatura trabalhada até então pela crítica brasileira, sobretudo pela crítica literária paulista representada aqui por Walnice.
Aliás, vale notar de passagem que tanto a poesia marginal quanto as produções culturais do CPC que Silviano menciona como soluções gestadas para lidar com o problema do livro foram analisadas por Heloisa Buarque de Hollanda em Impressões de viagem (1980), tese de doutoramento transformada em livro, e contemporânea ao texto de Silviano sobre Walnice. Como Silviano, Heloisa também imprime uma perspectiva original frente aos estudos literários da época, estudando outros sujeitos literários e confrontando novas linguagens artísticas.[3] Termino, então, reforçando que esses gestos críticos – de Silviano e também de Heloisa – foram pioneiros no processo de alargamento da noção de literatura, contribuindo para a ampliação do campo da cultura no país.
Os debates em torno da noção de literatura estão longe de serem encerrados, bastando lembrar as polêmicas mencionadas acima sobre a inclusão do álbum Sobrevivendo no Inferno na lista de leituras obrigatórias para o vestibular da Unicamp. Em relação às discussões sobre público (isto é, sobre os leitores), elas ainda são pouco enfrentadas pela crítica especializada. Por isso, talvez seja o caso de voltarmos mais as nossas atenções para esses passos decisivos dados pela crítica brasileira em direção à democratização do campo da cultura. A obra de Silviano, nesse caso, é incontornável.
Notas
[1] Aqui vale um parêntese. Não parece por acaso, então, que o próprio Silviano enrede para a ficção, procurando combinar as atividades de crítico da cultura com as de romancistas. Em 1981, por exemplo, ele publicou o instigante romance Em liberdade, no qual transformou Graciliano Ramos em personagem recém-libertado de uma prisão onde passou alguns meses sem saber o porquê. Um tema para lá de atual em um país que passava por um longo e penoso processo de transição democrática. Sobre esse tema, André Botelho (2022) explora brevemente a relação – bem-sucedida e reflexiva, como sugere – entre o ser crítico e o ser romancista. Já Rodrigo Jorge Neves (2023), em post nessa Hospedagem, faz um excelente comentário sobre o romance Em liberdade.
[2] Uma visão mais recente sobre o tema do público em Silviano (2017) se encontra no artigo “A moda como metáfora do contemporâneo”. Nele, o crítico trabalha com as noções sociológicas de público e de privado para tratar a produção e o mercado editorial, recortando os discursos de best-seller na produção editorial brasileira das últimas décadas. Mostra Silviano que esse tipo de literatura, que se dirige às classes populares, vai menosprezando cada vez mais a contribuição do público na leitura. Recupero um longo trecho pelo poder sintético e preciso do argumento: “levanto hipóteses sobre o modo como o livro bem aquinhoado pelo mercado editorial trabalha de modo negligente e otimista a mente do leitor que sobrevive em situação de pavor, de desespero ou de aflição. O leitor está a viver ‘tempos obscuros’, para retomar Agamben, mas o autor de best-seller opta por não lhe oferecer o livro que ele precisa para receber no rosto o facho de trevas da contemporaneidade. Oferece-lhe o livro que lhe permite ser mais docilmente seduzido pelas luzes da atualidade. A fortuna pessoal e a fama do escritor advêm do fato de que o livro-em-moda, o best-seller, não habilita o leitor a neutralizar as luzes da contemporaneidade para que enxergue as trevas do presente. Autor, editora e livraria entregam às mãos do leitor um veículo do pensamento alheio, veículo de fácil manejo, dócil e perfeitamente adequado ao status quo” (Santiago, 2017: 109, grifos no original).
[3] Lembremos, por exemplo, que Silviano dedica à Heloisa a entrevista que fecha Vale quanto pesa, na qual aborda problemas relacionados à crítica literária brasileira na passagem da década de 1970 para os anos de 1980.
Referências
BOTELHO, André & SILVA, Gabriel Martins da. (2023). Hospedagem Vale quanto pesa, uma ética da relação. Blog da BVPS, post de 10/04/2023. Disponível em: https://blogbvps.com/2023/04/10/hospedagem-vale-quanto-pesa-curadoria-de-andre-botelho-e-gabriel-martins-da-silva/. Acesso em 01 de maio de 2023.
BOTELHO, André. (2022). Dois estudos para retrato inacabado de Silviano Santiago. In: BOTELHO, André & HOELZ, Maurício & BITTENCOURT, Andre. A sociedade dos textos. Belo Horizonte: Relicário, pp. 201-216.
CHAGURI, Mariana. M. & TRESOLDI, Maria Caroline M. (2020). O pós-colonial como ponto de vista, uma nota sobre Silviano Santiago. Aletria: revista de estudos de literatura, v. 30, pp. 135-154.
GALVÃO, Walnice Nogueira. (1976). Amado: respeitoso, respeitável. Saco de gatos: ensaios críticos. São Paulo: Duas Cidades, pp. 13-22.
HOLLANDA, Heloisa Buarque de. (1980). Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde: 1960/70. São Paulo: Brasiliense.
NEVES, Rodrigo Jorge Ribeiro. (2023). O astrônomo e o anarquista. Blog da BVPS, post de 19/04/2023. Disponível em: https://blogbvps.com/2023/04/19/hospedagem-vale-quanto-pesa-o-astronomo-e-o-anarquista-por-rodrigo-jorge/. Acesso em 01 de maio de 2023.
SANTIAGO, Silviano. (1982). O teorema de Walnice e sua recíproca. In: Vale quanto pesa: ensaios sobre questões político-culturais. Rio de Janeiro: Paz e Terra, pp. 69-88.
SANTIAGO, Silviano. (2017). A moda como metáfora do contemporâneo. Sociologia & Antropologia, v. 7, n. 1, pp. 105-127.
A imagem que abre o post é de autoria de Lena Bergstein, Série Galáxias, 2018. Fotografia e superposições