Ocupação Mulheres 2023 | Falastin, de Lena Bergstein

Na segunda atualização deste 8M, publicamos a obra Falastin, da artista Lena Bergstein.

Lena trabalhou com gravura em metal durante muitos anos, tornando a superfície da chapa um arquivo de impressões, de inscrições e de marcas. Textos escritos e apagados, desfeitos e refeitos. Quando passou para a pintura, as palavras e os textos continuaram presentes em sua obra.

A artista explora a simultaneidade e a combinação de vários campos, confluentes ou não, como já admitiu em depoimento. “Telas”, disse ela, “são folhas, páginas abertas, onde a escrita se mostra em relação íntima com o desenho, trazendo até o espectador a memória do tempo de origem, quando desenho e escrita perfazem uma coisa só. São folhas escritas, riscos, rabiscos, traços, pequenas figuras geométricas, a enfatizarem o caráter gráfico do trabalho”.

O trabalho que apresentamos nesta Ocupação Mulheres 2023, sobre a fotografia de uma mulher num campo de refugiados da Palestina, pertence à sua investigação plástica atual. Ela repete com diferença gestos e atos na fronteira – ou no entre-lugar – da pintura, da escrita, do desenho, suplementando o dispositivo artístico com investigações historiográficas, reflexão filosófica, diários de viagens reais e imaginadas, vídeo e fotografias.

Acompanhem ao longo do dia nossas postagens da Ocupação. Para saber mais sobre a iniciativa, clique aqui.


Abaixo, um breve texto da autora sobre a obra:

“oh tempo espere por nós”

– Darwich

Meus escritos atuais se circunscrevem aos acontecimentos de 1948 na Palestina. É um passado, porém um passado e um presente que nesse caso não conseguem ser dissociados. Um presente que não consegue se dissociar do passado. Eles são parte da mesma sucessão implacável de eventos, eventos que são contínuos. Congelar no tempo o turbilhão daquela época pode ser útil para entender como e por que o ódio foi semeado no coração da Palestina e dos palestinos.

O passado se confunde com o presente, e nos meus inúmeros cadernos, rascunhos e desenhos tento refazer narrativas de viagem, refazer os diferentes desafios que um refugiado encontrará durante sua viagem, sua fuga, a dor de uma partida, a procura de um chão, de um teto, a impossibilidade de um retorno. Tento nessas linhas captar as fragrâncias dos laranjais de Jafa, o cheiro de um café em Birwe, a fala dos peixes que nadam na borda do mar em Acre olhando para Haifa. Tento captar a falta e a perda.

Filastin, para mim tudo começou com um assombro. Tropecei em pedras, percebi coisas de que nunca tinha ouvido falar. Uma ignorância me envolvia. Nenhuma prescrição. E a cada página que folheava mais segredos eu ia descobrindo. Descobrir. Levantar um véu. E se perguntar: como ler aqui? Comment lire, ici, Warburton? Como separar uma verdade? Como discernir? Um palimpsesto de uma espessura infinita, páginas que muitos tentaram apagar, rasurar, não deixar marcas desejando destruir os arquivos.

Mas as páginas resistiram e os arquivos sobreviveram. E foram lidos.

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